
Não é calendário que faz o novo,
nem contagem regressiva na TV.
O novo não chega —
ele é escavado.
Cavado dentro do que você adiou,
do que deixou adormecido,
como semente no bolso do casaco do inverno passado.
Para ganhar um ano ano novo
(que valha o suor, as madrugadas,
os recomeços em terça-feira sem glamour)
você precisa primeiro
se dar permissão de ser novo.
Desmontar as certezas,
tirar a poeira dos “nunca mais”,
repintar as paredes internas
com a cor do risco.
Porque o Ano Novo
não está lá fora, na queima de fogos.
Ele está aqui, no seu sopro,
na sua capacidade de olhar para trás e não virar estátua de sal.
Ele espera, sim.
Mas não cochila —
ele observa.
Aguarda seu movimento mínimo,
seu “hoje vou”,
seu respirar fundo antes do recomeço.
E quando você finalmente
ousar ser o seu próprio eclipse,
alinhando sol e lua dentro de si,
o ano vai começar de verdade.
E pode ser em qualquer momento!
Inspirado no poema de Drummond Receita de Ano Novo