Quantos beijos trocados, quantas pernas cruzadas, quantos cabelos despenteados, quanto suores misturados.
Aquela paixão o estava consumindo.
Ela era uma mulher incrível, com quem dividia os melhores momentos da sua vida.
Um tornado de emoções tomava-lhe conta e, como toda paixão, o enlouquecia. 
Sonhava com os encontros ardentes na Garçoniére.
A sua amante lasciva, quase uma devassa, tinha variedades de prazer que sequer poderia um dia imaginar experimentar.
Nunca pensou que ela fosse corresponder a paixão que lhe tomou conta, na primeira troca de sorrisos.
Quantas vezes, no meio da noite, teve que levantar para tomar um banho. Relatava à esposa os pesadelos que molhavam o seu pijama.
Era o que lhe ocorria como desculpa para disfarçar o verdadeiro motivo de lavar os pijamas, embaixo do chuveiro, removendo a marca do pecado.
Não eram mais jovens, não podiam se deixar levar. Tinham famílias e ele reconhecia ao seu lado uma esposa amorosa.
Vivia intensamente o seu amor proibido, muito clichê.
Ela preenchia sua vida arrebatando-lhe a alma.
Um dia, liberou suas amarras sociais e, no meio dos colegas, a pegou pelos braços e a beijou.
Ela perplexa, congelada, perguntou o que estava acontecendo. Ele não entendia a situação.
Por que ela o estava olhando com aqueles olhos de espanto?! Onde estava a paixão que fascinava aos dois?! Sabia que havia exagerado, mas não se conteve. 
Por segundos, ele viveu uma realidade inexistente, extravasou uma paixão contida, seus pensamentos o traíram.
Ela era apenas uma colega dos sonhos, com quem jamais havia deitado. Tentou, constrangido, disfarçar o indisfarçável.
Que ardil mental o acossou, imaginara uma paixão erótica, que sequer fora correspondida ou acontecera.
Então, ensandecido, correu até a sua pasta, pegou o revólver e a matou.
Jamais pecaria novamente.
Conto de Adrianafetter