Todos os dias no metrô ela dormia às vezes sentada, quando dava, outras em pé mesmo, encostada aproveitava os infinitos minutos, até chegar ao destino.
Essa era a rotina, levantar, arrumar rapidamente o café, lavar a louça e sair correndo para pegar o ônibus, para conseguir entrar no metrô as 6h.
A vizinha levaria as crianças para a escola, deixava a mesa posta com o café e elas de uniforme, as vestia mesmo dormindo, para não dar trabalho para a amiga.
O marido?! Já tinha se ido, achado outro caminho, sequer tinha notícias dele.
O sustento da casa era por conta dela, mas comida na mesa tinha. Podia ser pão dormido com café, arroz e feijão com ovo, mas tinha. Morar no subúrbio era o que dava, no momento.
Sempre dizia às filhas: estudem, nunca dependam de ninguém, a vida só é vivida assim, façam seu próprio caminho.
Nem ela sabia como tinha chegado ali, tanta luta todos os dias. Tanta caminhada para ganhar a comida e o aluguel, mas pelas filhas e o seu futuro valia cada passo.
Estudou até finalizar o segundo grau e casou. Então as meninas teriam muito mais do que ela teve, essa era a meta. Para elas muito mais que ser manicure, indo até as clientes, para completar as necessidades da família. Ela lutava e não recuava em nada.
Sua salvação sempre foi o que sabia fazer, fez um curso profissionalizante curto, mas dava para o sustento. Também escovava o cabelo das clientes mais próximas e sabia maquiar, quando pediam.
No metrô dormia, benditos minutos para o corpo e para a cabeça, a sua porção de tranquilidade.
conto de Adrianafetter
Republicou isso em pós 50.
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