Querido diário confesso que ando meio inquieta.
Fiz Estudos Sociais depois História, cursei, parcialmente, uma pós-graduação em Educação e Ciência Política e, por final, um mestrado em Ciência Política. Como gosto das ciências humanas! Como elas são perigosas para os ditadores!
Tive excelentes professores, já no segundo grau e olha que eu fazia um curso técnico de laboratório, porque, a principio, pensei em fazer medicina.
Esses professores me influenciaram, a ponto de resolver seguir uma carreira acadêmica. Eles instigavam o pensamento crítico, o debate, a análise. Estávamos na época da abertura política e nem tudo era permitido, mas os sonhos eram grandes.
A ditadura já tinha acabado com a filosofia, retirou das matérias curriculares e colocado em seu lugar moral e cívica e o OSPB. Os alunos, para eles, os autoritários, tinham de aprender os hinos e esquecerem de pensar, era só decorar a letra.
Mas a minha geração não queria só cantar, até queria, mas as músicas eram diferentes, Para não dizer que não falei de flores, cálice, Coração de estudante, Vai Passar, O bêbado e o equilibrista, entre tantas. Queríamos ouvir o Ivan Lins, o Chico, o Milton, a Elis Regina, o Gonzaguinha, o Geraldo Vandré, o Taiguara, queríamos a voz da resistência e da liberdade e queríamos gritar aos quatro cantos que um dia o julgo deles iria acabar!
Querido diário, tem sido difícil, tempos difíceis, angustiante assistir o desmonte do Brasil, o retrocesso, a destruição das políticas públicas, tão importantes. Eles querem nos dobrar!
Sabemos que somos #resistência, que estamos irmanados em não deixar esse governo leviano destruir o Brasil.
Nossa, querido diário como tem sido difícil, como tem doído, como, as vezes, querendo manter a cabeça erguida, nos vergam, aí choro, existe uma corda que aperta nosso pescoço, nos joga ao chão, mas sabemos que precisamos lutar.
Diário, meu querido diário, mesmo assim não quero esquecer nenhum dia desses, por vezes, em desespero, porque ainda sou historiadora. Mesmo assim pretendo levantar a minha voz, em todos esses dias.
A humanidade das ciências humanas me ensinou que eu posso e devo lutar, por aqueles que não tem voz!