

Metaforicamente, foi um dia de puxar meu espírito pelos cabelos, buscando trazer para fora a minha força interior, a coragem para viver esses dias tão difíceis, onde falta sensibilidade, empatia e humanidade.
Há um ano, dentro de 46 m², vivo minha solitude plena, com confiança, que, agora, tem se esvaído, diante a trágica realidade brasileira.
A realidade que se impõe é excessivamente dura.
Deus permita que possamos atravessar essa tempestade e recuperar sentimentos de humanidade, olhar para o lado e enxergar um irmão, não um inimigo.
Que ao aportar em águas mais tranquilas, tenhamos ao lado nossos queridos e amados e nossa integridade. Que meus cabelos brancos, de bons dias vividos, resgatem, em mim, a minha esperança.
Voltem para as cavernas, aliás, nem deveriam ter saído de lá, não precisávamos assistir a escrotidão das suas perversidades.
Voltem para as cavernas, porque nós precisamos da humanidade de quem nos cuida, de quem está lutando pelas nossas vidas.
Vocês que só pensam no dinheiro, na bolsa, nos ativos, nas commodities, em ter, em possuir, em deter, em explorar, que fixam suas vidas no capital, voltem para as cavernas!
São tempos de humanidade, de solidariedade, de afeto, de empatia, de resiliência, de respeito, vocês não estão à altura desses tempos, voltem para as cavernas.
Não é tempo de especular, abusar, humilhar, menosprezar, voltem para as cavernas.
É tempo de cuidar, vocês não sabem o que é isso, voltem para as cavernas.
Vocês que soltaram a sua desenfreada bestialidade e arrogância, voltem para as cavernas.
Não estou falando das cavernas de pedras, da natureza, onde os primeiros humanos se refugiaram, como também os animais. 
Estou falando da caverna escura, inabitável, profunda, buraco soturno, onde se escondeu cada alma de vocês.
Voltem para as cavernas, nos deixem viver!
Uma amiga questionou, nessa semana que passou, o motivo, o porquê desta pandemia, buscando sentido em tudo o que estamos passando.
Eu também não entendo.
No início achei que era um choque para a perdida humanidade, para que retomasse um rumo, um caminho mais humano de viver.
Agora, vendo no Brasil tanta gente aflorar a mesquinhez, os piores preconceitos, egoísmos e agressividades, colocar para fora o seu pior lado, eu me pergunto, até onde vamos?! Temos limites para o execrável?!
Parece lei de Darwin, cada dia fica mais aparente a falta de importância que certas castas dão à vida, alheia.
Me lembra Darcy Ribeiro e o carvão.
“A nossa sociedade é uma sociedade enferma de desigualdades, suponho que a causa básica está em que somos descendentes dos senhores de escravos, fomos o último país do mundo, nós e Cuba, a acabar com a escravidão e a escravidão cria um tipo de senhorialidade que se autodignifica, que se acha branca, bonita, civilizada, come bem, é requintada, mas que tem ódio do povo, trata o povo como carvão para queimar. Então, na realidade, é uma classe dominante de filhos de senhores de escravos que vê o povo como a coisa mais reles, não tem interesse em educar o povo e também não tem interesse em que o povo coma.”
O Brasil que assisto me assusta, me apavora! Percebo a lei do mais forte se aproximando e posso ouvir a turba dos raivosos. Essa minoria não tem nenhuma empatia.
Os mais fortes e os que tiverem mais recursos financeiros realmente vão sobreviver, não se importam com quantos vão morrer, desde que o seu quinhão fique garantido, falo de uns poucos, que são aniquiladores.
Não é só sobre o coronavírus, é a miséria, a fome, é assistir à fratura exposta do que disfarçamos, do que e de quem era invisível, as fissuras econômicas e sociais abertas e sangrando. Quem realmente as vê?!
Parece o horror retratado nas obras de Dante Alighieri. Me parecia impossível a existência daquele mundo, hoje me vejo vivendo nele.
No mundo real, não nessa realidade paralela em que vivemos, os agentes da saúde são dignificados e não agredidos, vejo Nova Iorque cantando, todos os dias, às 19h, New York New York, para quem está trabalhando para salvar vidas, na Europa batem palmas.
Não reconheço esse país aonde vivo.
Ainda bem que tenho uma bolha de humanistas com quem convivo, nos falamos e nos dizemos, vai passar, esse pandemônio vai passar!
A última vez que eu estive no Uruguai, querido diário, Pepe Mujica ainda era o presidente, hoje senador.
Conversando com um dos seus eleitores, me repassou o seguinte pensamento do presidente, em toda a sociedade existem pessoas que jamais terão condições de trabalhar, seja por deficiência mental, desajuste social, ou qualquer outro problema, então, o estado tem que se precaver, formular políticas públicas para atendimento a essa população.
Confesso que, meu diário, inclusive, abriu uma nova perspectiva de mundo para mim, ampliei meus horizontes sobre políticas compensatórias, quando conheci os valores de Pepe.
Uma das minhas críticas ao estado liberal é não entender isso, as pessoas que pregam o liberalismo econômico pensam em capital, desestatização, progressão por mérito.
Quem defende o estado mínimo jamais teria uma percepção humanista do outro, da justiça social, muito menos desse outro tão carente e deficiente, que exige um olhar de extrema acuidade.
Fiquei encantada com seu olhar humano, correto e tão assertivo nas políticas públicas, implementadas no Uruguai.
Tanta generosidade, advinda de tempos extremos e de sofrimento pessoal, transformaram esse homem num dirigente único, sábio, coerente. Para mim um símbolo e uma pessoa no ápice da suas virtudes e coerência de vida.
O Uruguai sempre me foi uma referência, desde a infância, por ter nascido muito próximo àquela região.
Hoje, mais do que nunca, me aquece o coração pensar nesse país, suas políticas, sua vanguarda, sempre penso em voltar por lá.
Querido diário vivo hoje no Brasil, pensando no Uruguai.
Hoje, às 6h da manhã, eu bati uma foto da minha janela, de um sol vermelho, lindo, pensei, querido diário, essa beleza mata.
Mata porque as cores vem das queimadas.
Pouco depois, ainda sob o impacto daquele instantâneo, eu abri uma reportagem, que falava de uma queimada em Rondônia, onde um casal, que não conseguiu fugir do fogo, morreu abraçado.
Há dias que venho refletindo, querido diário, sobre o dinheiro, o capital, a bolsa de valores. Por que, por mais que eu pense, eu não consigo entender essa filosofia do ganhar pelo ganhar, do ter pelo ter, de cada dia apostar em ter mais.
Quando foco é apenas o dinheiro, no ganhar, há imensas perdas pelo caminho.
Para isso pessoas são sacrificadas, no excesso de trabalho, na escravidão e mortes injustificadas. Mesmo que para isso se mate populações de fome e se alimente os porcos e o gado. Mesmo que para isso se fabrique cada vez mais armas, para se vender mais armas, para se fomentar a violência e as guerras.
Uma floresta inteira está sendo destruída, povos indígenas dizimados, biodiversidade arrasada e as nascentes d’água, que garantem o futuro, poluídas, obstruídas, desviadas.
No ganho rápido, que queime tudo, que haja ouro, exploração, minério, que se enriqueça.
Que os mercados se valorizem, que o dólar suba, que as bolsas apostem no caos, que os investidores migrem de país para país, saqueando suas reservas, empobrecendo suas populações.
Enriquecer é o objetivo, sem, no entanto, se conseguir levar um tostão sequer ao túmulo.
Querido diário eu não entendo o mundo, eu não entendo a desumanidade, eu não entendo o Brasil, em que vivo atualmente, eu não entendo os empresários sem consciência, eu não entendo, simplesmente, eu não entendo.
Se prefere destruir a edificar, matar a viver em humanidade. Estamos nos condenando e as gerações futuras, pelo ganho momentâneo, pelo consumo desenfreado e desnecessário.
Querido diário viver é caro, custa vidas!
Eu tenho uma página no Facebook, onde eu não coloco absolutamente nada de política, porque eu ainda respeito as pessoas que votaram nessa criatura, que temos com o presidente, porque eu sempre respeitei a democracia.
Também porque acho que, momentos de otimismo e de alívio mental, são benéficos, bem-vindos é necessários, na atual conjuntura.
Vez ou outra algum leitor percebe que sou de esquerda e vem criticar a minha posição, apesar do meu respeito aos meus curtidores sobre política. Deixo passar.
A minha opção política é inclusiva. Não consigo viver sem olhar para os lados. O meu projeto de vida sempre foi para mim e para os outros, não entendo o dinheiro pelo dinheiro.
Mas quando se vê a democracia ser atacada, por um demente, que foi colocado como uma criatura útil, para que as elites do atraso, no Brasil, pudessem fazer as reformas econômica, ao seu bel prazer, desconstruindo anos de conquistas de políticas sociais, me dá um desespero.
É uma afronta ao estado democrático de direito, todos os dias.
Nunca vi tanta gente desabrigada na rua, como neste inverno. A violência expondo seus percentuais crescentes.
Está doendo viver neste Brasil desumano, hipócrita, devastador, desrespeitoso, indigno e injusto.
Querido diário não tenho e nunca tive político de estimação, mas aqueles que colocavam o dedo na nossa cara e que ainda colocam, eles tem!
Defendem um absurdo atrás de outro absurdo, que essa criatura, que se diz presidente, faz e ainda gritam, mito!
Nepotismo normal, agressão normal, falta de educação normal, demência normal, preguiça normal! Normalizaram inimagináveis atitudes, a falta de ética e a falta de humanidade.
Quero crer querido diário, que essa fase de trevas no Brasil irá passar, mas não sei e tenho medo do que irá restar.
A fotografia do quadro não está das melhores, a fiz no Museu de Arte Contemporânea – MAC, em São Paulo, porque ali enxerguei o Brasil atual, o nome: A bestialidade avança.
Querido diário confesso que ando meio inquieta.
Fiz Estudos Sociais depois História, cursei, parcialmente, uma pós-graduação em Educação e Ciência Política e, por final, um mestrado em Ciência Política. Como gosto das ciências humanas! Como elas são perigosas para os ditadores!
Tive excelentes professores, já no segundo grau e olha que eu fazia um curso técnico de laboratório, porque, a principio, pensei em fazer medicina.
Esses professores me influenciaram, a ponto de resolver seguir uma carreira acadêmica. Eles instigavam o pensamento crítico, o debate, a análise. Estávamos na época da abertura política e nem tudo era permitido, mas os sonhos eram grandes.
A ditadura já tinha acabado com a filosofia, retirou das matérias curriculares e colocado em seu lugar moral e cívica e o OSPB. Os alunos, para eles, os autoritários, tinham de aprender os hinos e esquecerem de pensar, era só decorar a letra.
Mas a minha geração não queria só cantar, até queria, mas as músicas eram diferentes, Para não dizer que não falei de flores, cálice, Coração de estudante, Vai Passar, O bêbado e o equilibrista, entre tantas. Queríamos ouvir o Ivan Lins, o Chico, o Milton, a Elis Regina, o Gonzaguinha, o Geraldo Vandré, o Taiguara, queríamos a voz da resistência e da liberdade e queríamos gritar aos quatro cantos que um dia o julgo deles iria acabar!
Querido diário, tem sido difícil, tempos difíceis, angustiante assistir o desmonte do Brasil, o retrocesso, a destruição das políticas públicas, tão importantes. Eles querem nos dobrar!
Sabemos que somos #resistência, que estamos irmanados em não deixar esse governo leviano destruir o Brasil.
Nossa, querido diário como tem sido difícil, como tem doído, como, as vezes, querendo manter a cabeça erguida, nos vergam, aí choro, existe uma corda que aperta nosso pescoço, nos joga ao chão, mas sabemos que precisamos lutar.
Diário, meu querido diário, mesmo assim não quero esquecer nenhum dia desses, por vezes, em desespero, porque ainda sou historiadora. Mesmo assim pretendo levantar a minha voz, em todos esses dias.
A humanidade das ciências humanas me ensinou que eu posso e devo lutar, por aqueles que não tem voz!
Texto baseado na crônica de Juremir Machado da Silva, que muito me emocionou e que reproduzo abaixo.
Sou uma cronista de blogue. Assim me descrevo.
Meus textos são sobre as nostalgias que me assolam como a ele, Juremir.
Penso que muito dos problemas que temos são decorrentes da falta da pausa que não se faz mais para ler e inebriar a alma.
Percebo claramente o desinteresse na leitura como uma alternativa de lazer. Não lemos, não abrimos os nossos horizontes, não viajamos no passado e no futuro. Não proporcionamos ao nosso cérebro a possibilidade de construir raciocínios diversos e colaborativos, temos informação em demasia e falta de conhecimento de estrutura. Lidamos apenas com conjunturas, sem possibilidade de construir viabilidades, estamos ficando surdos, esquecendo de ouvir os argumentos dos outro. Não dialogamos mais num debate de ideias, agredimos com palavras.
Estou triste, não sei por quanto tempo os meus escritos serão lidos, as pessoas se interessam pelo fútil, rápido e provavelmente inútil. O vloger faz muito mais sucesso que o blogue, o que se dirá então dos livros?!
Quanto menos leitura menos exercício cerebral e menor o potencial da nossa sociedade crescer científicamente e humanamente.
Precisamos incentivar as nossas crianças a leitura desde pequenos e possibilitar o desenvolvimento delas, não apenas numa sociedade da informação, mas também numa sociedade do conhecimento.
Racionalmente isso seria muito importante mas quem hoje lê os poetas?! Certamente o nosso mundo precisa muito de poesia.
—
UM VIVA AOS CRONISTAS
Crônica: imaginários olfativos
Perfume da manhã
Por Juremir Machado da Silva
Que nossa mente tem seus mistérios ninguém duvida. Creio que nem mesmo os cientistas. Ou principalmente eles. Talvez a maior diferença entre um cientista e um cronista, caso se pense nisso, esteja na busca do esclarecimento. O cientista quer explicar. O cronista precisa que uma sombra permaneça. O que seria de nós, humanos, sem essa zona misteriosa que agora chamamos de imaginário? Há coisas que não explicamos e que por isso mesmo se tornam tão importantes. Tenho cada vez mais convicção de que a idade adulta se caracteriza pela “desmagificação” da existência. Quando eu era criança, tudo era mágico. Por exemplo, a cor das frutas. Eu poderia ficar horas contemplando a luminosidade de um maracujá sobre o verde do mato.
Já falei disso. Não falei? Claro que falei. Tenho a impressão de que todo cronista é um maníaco, um ser com obsessões olfativas, visuais e táteis. Um tarado da sensibilidade pretérita. Cronistas não são confiáveis. Vivem em mundos subjetivos acossados por lembranças e por fantasias que não se contentam em ser discretas. Querem aparecer, expressar-se, brilhar. Cronistas não são úteis. Jamais soube de um cronista que tenha contribuído para a evolução do PIB ou para a erradicação da miséria. Cronistas e poetas não ouvem a razão. Divagam, caem em devaneios, evadem-se, poluem a realidade com suas conjecturas, semeiam tempestades, evocações, paixões, enigmas e frases ambíguas.
Se eu fosse ditador mandava prender todos os cronistas, especialmente os que fazem prosa poética. Para que servem? Desvirtuam as mentes, distraem os trabalhadores, atrapalham a marcha para a objetividade, promovem teses estranhas, generalizam, contestam especialistas, manipulam as palavras explorando uma multiplicidade de sentidos que confundem as mentes lineares. Aposto que se alguém procurar bem, com método, encontrará outra crônica minha com o título “perfume da manhã”. Creio que eu daria um bom ditador: tirano, cruel, inimigos dos cronistas e dos poetas, contraditório, impiedoso, nu. Como todo ditador, meu lema é: façam o que eu mando, não como eu.
Entre todas as memórias afetivas que carrego comigo, como quem passeia por ruas conhecidas de onde todos se foram sem dar notícias, mas onde suas imagens permanecem como numa história do argentino Bioy Casares, a que mais impregna minha alma é a do cheiro das manhãs. Sim, eu acredito que temos uma alma. Não sei se ela é imortal. Torço que sim. Creio que meu lado místico já não se contenta em calar. Fica fazendo discursos do fundo de mim. Provocações sinuosas. O cheiro das manhãs me faz sonhar de um jeito especial. Uma vez, falei disso para um químico. Ele sorriu. Outra vez, comentei isso com um sociólogo. Ele balançou a cabeça como quem diz “que coisa!” O cheiro das manhãs me acompanha desde a mais tenra infância. É um cheiro de frescor e de esperança. Eu deveria falar de cheiro, perfume ou aroma? Não sei.
Outro dia, saí de casa às 7h30. É meu horário habitual. Normalmente me comporto como um homem normal. Não farejo o ar. Caminho em linha reta, passos médios, objetivos claros, metas a alcançar, foco no trabalho, valores a defender, pensamentos respeitáveis, teses a sustentar. Nesse dia que quero contar, porém, foi diferente. Quando botei o pé na rua, na minha rua, que ainda não mandei ladrilhar para a Cláudia passar por falta de recursos e para não ver mais uma obra inacabada na cidade, soprava uma brisa inebriante. Sim, eu bebo brisa até cair. Senti o cheiro da manhã como antigamente. Entre os cheiros que me fascinam estão o de figos maduros e o de goiaba. Mas também um cheiro muito singular, o de água de sanga depois de um mergulho.
Farejei o ar. Minhas narinas fremiram com as de um cavalo, um potro selvagem de lustrosos pelos tostados. Uma senhora que passava se assustou e resmungou alguma coisa que não captei. Duvido que o leitor já tenha encontrado ocasião de usar o verbo fremir. Minhas narinas fremiram. O ar estava leve, perfumado, refrescante, carregado de uma pátina, sim, uma pátina, insisto, uma marca de tempo, uma suavidade tocante que me penetrou o corpo e a mente com uma seiva entorpecente. Eu sorri. Fosse pássaro, voava. Fosse mesmo cavalo, saía em disparada. Fosse menino, dava uma cambalhota. Eis o problema: nunca consegui dar cambalhota, que chamávamos de cambota. Tinha medo de quebrar o pescoço e de derramar as ideias quando estivesse de cabeça para baixo.
O perfume da manhã que me embriaga escancarando as portas da minha percepção tem cheiro de rosas, avencas, lírios, jasmins, figos, pêssegos, goiabas, sereno, vento, cantigas de roda, terra molhada, sangas, infância, poesia, grama, mato, lagoa, mágica, risadas, caderno de caligrafia, lápis de cor, fruta no pé e saudade, uma saudade doída do melhor de mim, aquilo que fui naturalmente. O cheiro de manhã que me faz viajar no tempo tem a força e a ternura das lembranças gratuitas que nunca se apagam por não terem preço nem comprador.
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Postado em 18 de novembro de 2017 por Juremir Publicado em Uncategorized
Perfume da manhã
Que nossa mente tem seus mistérios ninguém duvida. Creio que nem mesmo os cientistas. Ou principalmente eles. Talvez a maior diferença entre um cientista e um cronista, caso se pense nisso, esteja na busca do esclarecimento. O cientista quer explicar. O cronista precisa que uma sombra permaneça. O que seria de nós, humanos, sem essa zona misteriosa que agora chamamos de imaginário? Há coisas que não explicamos e que por isso mesmo se tornam tão importantes. Tenho cada vez mais convicção de que a idade adulta se caracteriza pela “desmagificação” da existência. Quando eu era criança, tudo era mágico. Por exemplo, a cor das frutas. Eu poderia ficar horas contemplando a luminosidade de um maracujá sobre o verde do mato.
Já falei disso. Não falei? Claro que falei. Tenho a impressão de que todo cronista é um maníaco, um ser com obsessões olfativas, visuais e táteis. Um tarado da sensibilidade pretérita. Cronistas não são confiáveis. Vivem em mundos subjetivos acossados por lembranças e por fantasias que não se contentam em ser discretas. Querem aparecer, expressar-se, brilhar. Cronistas não são úteis. Jamais soube de um cronista que tenha contribuído para a evolução do PIB ou para a erradicação da miséria. Cronistas e poetas não ouvem a razão. Divagam, caem em devaneios, evadem-se, poluem a realidade com suas conjecturas, semeiam tempestades, evocações, paixões, enigmas e frases ambíguas.
Se eu fosse ditador mandava prender todos os cronistas, especialmente os que fazem prosa poética. Para que servem? Desvirtuam as mentes, distraem os trabalhadores, atrapalham a marcha para a objetividade, promovem teses estranhas, generalizam, contestam especialistas, manipulam as palavras explorando uma multiplicidade de sentidos que confundem as mentes lineares. Aposto que se alguém procurar bem, com método, encontrará outra crônica minha com o título “perfume da manhã”. Creio que eu daria um bom ditador: tirano, cruel, inimigos dos cronistas e dos poetas, contraditório, impiedoso, nu. Como todo ditador, meu lema é: façam o que eu mando, não como eu.
Entre todas as memórias afetivas que carrego comigo, como quem passeia por ruas conhecidas de onde todos se foram sem dar notícias, mas onde suas imagens permanecem como numa história do argentino Bioy Casares, a que mais impregna minha alma é a do cheiro das manhãs. Sim, eu acredito que temos uma alma. Não sei se ela é imortal. Torço que sim. Creio que meu lado místico já não se contenta em calar. Fica fazendo discursos do fundo de mim. Provocações sinuosas. O cheiro das manhãs me faz sonhar de um jeito especial. Uma vez, falei disso para um químico. Ele sorriu. Outra vez, comentei isso com um sociólogo. Ele balançou a cabeça como quem diz “que coisa!” O cheiro das manhãs me acompanha desde a mais tenra infância. É um cheiro de frescor e de esperança. Eu deveria falar de cheiro, perfume ou aroma? Não sei.
Outro dia, saí de casa às 7h30. É meu horário habitual. Normalmente me comporto como um homem normal. Não farejo o ar. Caminho em linha reta, passos médios, objetivos claros, metas a alcançar, foco no trabalho, valores a defender, pensamentos respeitáveis, teses a sustentar. Nesse dia que quero contar, porém, foi diferente. Quando botei o pé na rua, na minha rua, que ainda não mandei ladrilhar para a Cláudia passar por falta de recursos e para não ver mais uma obra inacabada na cidade, soprava uma brisa inebriante. Sim, eu bebo brisa até cair. Senti o cheiro da manhã como antigamente. Entre os cheiros que me fascinam estão o de figos maduros e o de goiaba. Mas também um cheiro muito singular, o de água de sanga depois de um mergulho.
Farejei o ar. Minhas narinas fremiram com as de um cavalo, um potro selvagem de lustrosos pelos tostados. Uma senhora que passava se assustou e resmungou alguma coisa que não captei. Duvido que o leitor já tenha encontrado ocasião de usar o verbo fremir. Minhas narinas fremiram. O ar estava leve, perfumado, refrescante, carregado de uma pátina, sim, uma pátina, insisto, uma marca de tempo, uma suavidade tocante que me penetrou o corpo e a mente com uma seiva entorpecente. Eu sorri. Fosse pássaro, voava. Fosse mesmo cavalo, saía em disparada. Fosse menino, dava uma cambalhota. Eis o problema: nunca consegui dar cambalhota, que chamávamos de cambota. Tinha medo de quebrar o pescoço e de derramar as ideias quando estivesse de cabeça para baixo.
O perfume da manhã que me embriaga escancarando as portas da minha percepção tem cheiro de rosas, avencas, lírios, jasmins, figos, pêssegos, goiabas, sereno, vento, cantigas de roda, terra molhada, sangas, infância, poesia, grama, mato, lagoa, mágica, risadas, caderno de caligrafia, lápis de cor, fruta no pé e saudade, uma saudade doída do melhor de mim, aquilo que fui naturalmente. O cheiro de manhã que me faz viajar no tempo tem a força e a ternura das lembranças gratuitas que nunca se apagam por não terem preço nem comprador.
Vamos tentar ser nossos bons amigo?! Sim, gentis conosco mesmo?!
Eu já fiz um texto sobre auto sabotagem e autoestima, vou bater muito nessa tecla, porque acho que não existe quem faça críticas piores a nós mesmos do que o nosso ser. Isso é muito ruim, nós devíamos aprender a nos tratar com carinho, porque o mundo é muito duro.
Lá fora o mundo vai nos bater e nos bater, como se nós estivéssemos em um ringue de box.
Temos que aprender a nos amar, porque quando o mundo nos bater, nós temos que ser a nossa salvaguarda e não nos deixar abalar mais do aquilo deveria abalar, não aumentar este sentimento mais do que ele realmente significa.
Temos que tomar cuidado com as nossas reações internas, aquilo que nós mesmos nos causamos e com aquilo que os outros nos transmitem em suas críticas.
E aqui vai um recado específico para os homens! Homens não cobrem de suas mulheres aquilo que vocês não tem mais para dar.
Se você quer o corpo da sua mulher idêntico ao corpo que você conheceu antes de se casar, antes dela ter filhos, dela amamentar, por favor se olhe no espelho e me diga com sinceridade, o seu corpo ainda é o mesmo mesmo?! Sem você ter parido, sem você ter amamentado, o seu corpo é o mesmo da época do namoro?!
Não é! Mas se estiver bem, parabéns! Mas se a resposta é não, porque você está barrigudo, careca, ou qualquer outra mudança vida afora, o meu conselho para você é: por favor antes de cobrar a sua mulher se olhe no espelho, se você continuar cobrando, vá se catar!
Mulheres não se cobrem e não se deixem ser cobradas!
O mundo já nos cobra uma cintura fina, uma pele impecável, nenhuma ruga, nenhuma celulite, nem gordurinhas.
Tem gente morrendo em cirurgia plástica, mesmo tendo um corpo perfeito, para atender padrões de beleza inalcançáveis. Morrendo porque tem problemas com anestesia, porque tiveram pseudo-cirurgião, por fatalidades da vida.
Então preste atenção, o mais bonito de você é o seu sorriso de felicidade, que você consegue dar por ser e estar bem consigo mesma.
Uma pessoa feliz, esta é a parte mais bonita que o mundo poderá observar.
Para que eu tenha um corpo saudável preciso ficar bem, e, não quero ser padrão de beleza para ninguém, nem para essa sociedade hipócrita que nos cobra o que não nos dá!
Por acaso é fácil o seu acesso à médico e nutricionistas?! Consegue fazer 5 refeições equilibradas no dia? Nelas tem frutas, carnes, legumes?
A questão aqui é você é saudável?! É feliz?! Eu eu não estou falando de estética e sim de saúde e bem estar! Estou dizendo que o que importa é a sua autoestima! Cuidar do colesterol, taxa de glicemia e as demais coisas é sempre bom também!
Não é viver em eterno regime, comer e depois querer vomitar tudo pra fora, pra não engordar ou tomar laxante, ou qualquer coisa do tipo. É conseguir encontrar as alegrias da vida sem ter medo de ser julgada, é realmente viver.
Quem não gosta de se sentir bonito?! Todo mundo gosta, mas não podemos nos tornar escravos da beleza! Tem dias que serão ótimos e vamos irradiar alegrias.
Não estou numa época favorável ao espelho, aliás, não me importa, eu entendo que este é o meu momento de vida.
Eu passo bastante tempo me cuidando para estar bem. Por ter problemas de saúde, tenho uma lista de cuidados diários é necessários para ficar bem, depois eu cuido da minha questão de corpo, saudável e não sarado.
Gostei do pilates, que não estou fazendo, mas pretendo voltar, me fez um bem danado. O que você gosta?! De dançar?! Vai lá e dança!
Sinceramente, o mundo precisa de mais humanidade, bem estar, autoestima e de menos futilidade!
© Foto de Dadá Cardoso/Ibase. O sociólogo Herbert José de Sousa, o Betinho.
Sinto falta da humanidade do Betinho, da grandiosidade desse brasileiro que lutou contra a fome dos seus irmãos.
Só quando não tivermos nenhum brasileiro com fome no nosso país seremos realmente um grande Brasil.
O Brasil ficou menor com a morte dele!
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Um pouco de poesia, um tanto de poemas, outros de ilustrações, sem esquecer da fotografia e muito mais de arte. Produção de GeraldoCunha autor da obra Improváveis - Livro de Poemas, edição 2021. Contato pelo instagram @divagacoes.geraldocunha
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