
Meu texto se refere a uma reflexão, despertada pelos fatos que vem ocorrendo no Ceará, neste inicio de 2019. Os ataques criminosos aos bancos, transportes e repartições públicas, com reflexos e impactos imediatos para a população.
Uma pessoa conhecida, descreveu como uma ação política orquestrada pela oposição ao governo federal, executadas pelo PT e pelo PSOL, aliados ao PCC, Primeiro Comando da Capital. Que triste e equivocada comparação de dois partidos políticos de esquerda com uma facção criminosa.
Em parte eu entendo o gatilho para esse pensamento, ela é responsável pela renda da família, foi assaltada na rua, o ladrão levou o dinheiro e o celular. Seu trabalho é de atendimento domiciliar, o celular guarda os contatos de suas clientes, todos os compromissos da agenda, que se foram com o telefone. Um prejuízo de uma semana inteira de trabalho. Culpa o governo pela escalada da violência.
Quem vê o crescente desemprego e o desalento dos desempregados, que sofreu violência, ou não teve atendimento médico no SUS, ou ainda enfrentou problemas com a educação de seus filhos, olha para os governantes com desconfiança. Somente o discurso político de promessa, que não atende às suas necessidades imediatas e suas prioridades, não conquista atenção e o voto. A população quer ação rápida e precisa.
Como falou Mano Brown, a esquerda se afastou da população e da periferia, que antes nela votava, não reconhece mais as suas necessidades.
As pessoas que votaram em Bolsonaro acham que a criminalidade e a violência emergiram da corrupção e das políticas implantadas pelo PT. Assim como pensam que a esquerda é responsável por toda a corrupção do Brasil.
O PT sequer lidera o ranking de partido mais corrupto ou mais citado na lava jato.
Preferiram esquecer os desvios das verbas públicas, que varrem a nossa política desde o Império e votar em quem prometeu soluções mágicas e armas.
Agora faço o papel de advogado do diabo, elencando alguns diferentes momentos políticos.
- Fernando Henrique Cardoso é associado ao plano real e à estabilidade econômica, aquele que proporcionou a superação da era inflacionária;
- O Ministério Público Federal – MPF, a Policia Federal – PF e a Polícia Rodoviária Federal – PRF, em sua maioria, viraram oposição à esquerda, de quem foram beneficiários, pela abertura dos inúmeros concursos públicos, e tendo a necessária liberdade para fazer ampla investigação sobre desvios e corrupção;
- O clientelista baixo clero do Congresso Nacional, que é a atual base do governo empossado, e é quem mais demanda verbas parlamentares em troca de apoio e favores políticos, foi fundamental para o impeachment da Presidente Dilma Rousseff, alegando pedaladas fiscais, amplamente usadas por seu sucessor;
- Usuários do FIES, ENEM e SISU, em sua maioria, não votou no HADDAD, que implantou esses programas;
- Os eleitores, com exceção do Nordeste, não reconheceram as conquistas alcançadas pelas políticas sociais de que foram beneficiários.
Além da questão do preconceito social e da questão cultural, para a interpretação desse cenário, também existe uma questão econômica.
Quando as classes C, D e E conseguiram ascender, tiveram ganhos econômicos e sociais efetivos, passaram a ser consumidores de fato, migrando um ou dois degraus acima.
Como disse Pepe Mujica, elas aprenderam a consumir e não a reconhecer que isso foi ganho com políticas públicas, para classes sociais menos privilegiadas.
A falta de equilíbrio econômico do nosso país, onde 1% detém toda a riqueza dos outros 99%, faz com que essa sociedade tenha sempre o medo de empobrecer, perder seus privilégios e voltar para a zona de pobreza.
A esquerda tem fazer uma profunda análise, para saber onde errou, para que tenha alguma perspectiva de aproximação dessa população, que se sente por ela abandonada e traída. Como irá conquistar novamente a confiança desta gente?!