Eu já chorei nessa pandemia, por saudade de quem amo, no distanciamento social que tenho vivido.
Não vejo meus filhos e meus netos desde março. É difícil, mas temos encontrado formas virtuais de nos manter-nos em contato e sanar essa falta.
E, início da noite, ou final dela, meu marido chega e não estamos sós, temos um ao outro. Aqui merece um esclarecimento, na pandemia, o trabalho com cal, um desinfetante, tem exigido muito dele.
Tem uma coisa que segura a minha onda, a minha solitude.
Não tenho problemas em ficar só, por muitas horas, muitas mesmo, quase todo dia.
Gosto da minha presença, das atividades que me estabeleço, da curiosidade em aprender cada dia mais, dos meus estudos, dos meus livros, dos meus filmes, das minhas séries e assistir aos noticiários.
Se bem que, ultimamente, ao assistir as notícias dá um certo desespero, em se saber que ainda haverá, por muito tempo, distanciamento, até que haja uma vacina.
Acredito que manter a saúde mental tenha sido a diferença em estar bem, depois de meses.
Por isso o uso aqui da palavra solitude, gostar de estar sozinha, não se sentir só no passar dos dias.
Espero que todos que, como eu, estejam afastados do seus queridos, possam estar bem e se sentir bem consigo mesmos.
Ela caprichava na limpeza da casa, afinal tinha acabado de mudar para o centro, queria tudo brilhante, mesmo que sempre tenha sido asseada.
Agora que tinha mudado para o centro. Finalmente ela e o marido haviam saído da Fazenda Couto, 29 assassinatos de fevereiro a abril, aquilo não era vida. O Alto de Amaralina era o paraíso.
O tempo de ônibus então, oxe oh gente, aquilo que era vida, chegava no Rio Vermelho rapidinho, era só subir a rua e estava em casa. Carlos, seu marido também, pena que peão de obras nunca sabe o endereço da próxima onde será.
Tinha tanto orgulho da sua vida, fez até a quarta série, depois um curso de cozinha no Senac, facilitou muito a vida para conseguir o emprego na casa da D. Mercedes. Ela sempre lhe dizia: Rosilene você é uma banqueteira de mão cheia.
Nem todos os dias conseguimos ser alto astral, os meus textos, as vezes, podem ser um pouco nostálgicos.
Faz parte da vida os dias atribulados, em que nós não percebemos como sair deles, ou enxergar um caminho mais nítido.
Tento sempre pensar em como ser e fazer tudo da melhor forma.
Sempre peso muito bem minhas falas e os meus atos, para que, caso tenham consequências e atinjam as pessoas ao meu redor, o façam de uma maneira que elas me entendam, que não foi proposital, mas, sim, por que era necessário ou eu não tinha outra saída.
Isso faz parte de um aprendizado de vida constante, de uma pessoa que a cada dia tenta melhorar um pouco mais, tenta ser sempre mais humana, mais compreensiva, respeitando o ir e vir das outras pessoas que estão ao meu lado, seja na convivência diária ou seja por passagem.
Hoje, depois de quase quatro meses, eu vi meu filho, pela primeira vez, sem abraço, mantendo a distância de 2 metros, ele todo paramentado e usando uma máscara do Coringa, a sua predileta.
Esse foi o cuidado extremo dele, com a minha saúde, pela minha imunodeficiência.
Veio cedo até minha casa pegar dois notebooks antigos, para que as crianças das escolas públicas do DF possam fazer aulas online, iniciativa da minha nora, que tem pedido a todos os conhecidos.
O mundo está precisando de solidariedade, empatia, respeito.
Me deixa feliz saber que, aquilo que seria um lixo eletrônico, vai ser de grande serventia para as crianças sem recursos, neste momento de pandemia.
Foi muito bom estar com o Mateus, mas, olhando a foto, meu ser se toma por uma grande tristeza, me pergunto quanto tempo ainda vou levar para abraçar os meus filhos e os meus netos.
Desde o dia 14 de março saí uma única vez, com o meu marido, parceiro e incrível companheiro, para ir ao posto de vacinação, me vacinar contra H1N1.
Costumo brincar que não tenho problemas em ficar sozinha, gosto muito da minha companhia, meu marido é um dos que precisam trabalhar, mas estar alijada do convívio social de quem amo, traz uma emoção muito grande de melancolia.
Nessas horas me pergunto porque temos um desgoverno tão ordinário, que flerta com a morte o tempo todo, que só pensa em aumentar os limites de velocidade, tirar a segurança dos automóveis, em dar armamentos para a população, em dizer que uma pandemia é uma gripezinha, fico indignada.
A cada dia, dessa administração tosca, sou afastada da minha família. Aumenta o tempo de distanciamento social, dos abraços, dos beijos, das demonstrações de afeto.
Sou afetada intensamente por isso, minha raiva aumenta, pela desumanidade com que as pessoas são tratadas.
Ouvi, pela manhã, o reitor Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, sobre os últimos resultados da pesquisa ecovid, coordenada pessoalmente por ele.
Ele relata as proporções étnicas, sociais e econômicas dessa pandemia. Os indígenas morrem cinco vezes mais do que o restante da população brasileira.
O coronavírus é uma doença trazida da Europa pelos brasileiros ricos, que mata mais a população pobre, que não tem condições de manter distanciamento social e, muitas vezes, sequer tem sabão para lavar as mãos, que precisa sair as ruas, usar transporte público para trabalhar e colocar comida em casa.
O coração aperta, mesmo triste, eu ainda estou em vantagem.
Que saiam os políticos e entrem os administradores públicos, assim pode ser que o Brasil tenha alguma chance. Por enquanto, o meu sentimento é de desesperança, devido a irresponsabilidade política dessas criaturas.
Que desconsolo… Diante dos fatos, resta uma opção, rezar…
Adepta da CozinhaTerapia desde os 11 anos. Compartilhando meus pratos preferidos do interior de São Paulo para o mundo. Porque a cozinha rompe fronteiras e tempera vidas!
Um pouco de poesia, um tanto de poemas, outros de ilustrações, sem esquecer da fotografia e muito mais de arte. Produção de GeraldoCunha autor da obra Improváveis - Livro de Poemas, edição 2021. Contato pelo instagram @divagacoes.geraldocunha