
Eu conheci uma professora doutrinadora, formada em história.
Ela me espanta até hoje com suas atitudes. Eu queria entender os abusos dessa mulher que, mesmo antes de formada, já ansiava por uma sociedade mais igualitária, com menos diferenças sociais.
Sabe o que fez?! Aproveitou o seus finais de semana e resolveu ser voluntária numa campanha de vacinação infantil. Calçou as suas galochas, em pleno inverno, foi para uma região da cidade onde não existia posto de saúde, numa época que não havia agentes sociais, levou vacina para as crianças, que moravam em barracos encostados ao muro do cemitério, a parede mais forte da casa. As outras famílias moravam em frente, em construções de madeirite, no meio do banhado, numa região onde o inverno chegava a – 5° C.
Essa mesma mulher abusada, depois de formada, resolveu que não bastava dar aulas de história para seus alunos, oriundos da zona rural, filhos de pequenos agricultores, cujo destino, naquela época difícil, era o êxodo. Então ela procurou por palestras que orientassem seus alunos à ações de suporte e subsistência. Coisas baratas, ao alcance daquela gente necessitada, pequenas soluções para chácaras e sítios dos seus pais, para que houvesse uma diminuição do abandono da zona rural.
Ensinou piscicultura, apicultura, plasticultura. Com as duas primeiras eles teriam comida, com a cobertura dos hortifruti não haveria a perda dos produtos para a geada.
A doutrinação não era tão grande que ela ensinou, aos filhos dos grandes produtores, o respeito pelos pequenos, que colocavam o feijão, a batata, a alface, as frutas e a comida na mesa de quem exportava a plantação.
Depois de tudo isso ela resolveu estudar as políticas públicas, para poder incrementar os seus conhecimentos e melhorar a sua atuação social.
Aprendeu que a tecnologia pode ser aplicada para o bem e para o mal e que a ética deve prevalecer em cada política que se aplica.
Que suas crenças religiosas importavam sim, porque ela não era só uma repetidora de textos bíblicos, ela fazia dos ensinamentos de Cristo a sua prática.
Sabia que não era perfeita, tinha que olhar para todos como um irmão, para os desvalidos com compaixão, para quem lhe procurava aflito, tinha que estender a mão.
Poucas foram as vezes que sentou num banco de igreja, porque resolveu fazer da sua prática o seu templo.
Conheceu a hipocrisia do mundo que ridiculariza as crianças negras, que explora os mais pobres, que violava os direitos das mulheres e das minorias, que escraviza para aferir lucro, que venera a riqueza, sem se importar com a origem do dinheiro.
Aí começou a entender o discurso dos ditos religiosos que batem no peito três vezes, mas são incapazes de tratar como humano o seu semelhante.
Entendeu finalmente por que Jesus morreu crucificado, porque ele também era um doutrinador e revolucionário, que ousou desafiar a sociedade em que viveu.
Até hoje a ignorância e a má fé apavoram essa professora doutrinadora.
Ela teme uma fogueira de livros, a vigilância vil aos professores, para desviar a atenção daqueles que realmente deveriam ser vigiados, os políticos eleitos, que fazem da corrupção uma prática diária, há mais de 50 anos. Que isso resultou nos desvios de merenda, saúde e segurança.
Ela teme os valores dos bons costumes daqueles que vivem para o dinheiro e pelo dinheiro. Ela teme que as pessoas do seu país voltem a passar fome novamente, como na época em que era apenas uma estudante de história.
Essa perigosa pessoa professora doutrinadora só quer um mundo melhor e mais justo, mas convive num Brasil onde 1% da população tem mais que os outros 99%.
Ah, lembrando que, se os professores fossem efetivamente doutrinadores marxistas, o Brasil não teria eleito um presidente de extrema direita.