Hoje, às 6h da manhã, eu bati uma foto da minha janela, de um sol vermelho, lindo, pensei, querido diário, essa beleza mata.
Mata porque as cores vem das queimadas.
Pouco depois, ainda sob o impacto daquele instantâneo, eu abri uma reportagem, que falava de uma queimada em Rondônia, onde um casal, que não conseguiu fugir do fogo, morreu abraçado.
Há dias que venho refletindo, querido diário, sobre o dinheiro, o capital, a bolsa de valores. Por que, por mais que eu pense, eu não consigo entender essa filosofia do ganhar pelo ganhar, do ter pelo ter, de cada dia apostar em ter mais.
Quando foco é apenas o dinheiro, no ganhar, há imensas perdas pelo caminho.
Para isso pessoas são sacrificadas, no excesso de trabalho, na escravidão e mortes injustificadas. Mesmo que para isso se mate populações de fome e se alimente os porcos e o gado. Mesmo que para isso se fabrique cada vez mais armas, para se vender mais armas, para se fomentar a violência e as guerras.
Uma floresta inteira está sendo destruída, povos indígenas dizimados, biodiversidade arrasada e as nascentes d’água, que garantem o futuro, poluídas, obstruídas, desviadas.
No ganho rápido, que queime tudo, que haja ouro, exploração, minério, que se enriqueça.
Que os mercados se valorizem, que o dólar suba, que as bolsas apostem no caos, que os investidores migrem de país para país, saqueando suas reservas, empobrecendo suas populações.
Enriquecer é o objetivo, sem, no entanto, se conseguir levar um tostão sequer ao túmulo.
Querido diário eu não entendo o mundo, eu não entendo a desumanidade, eu não entendo o Brasil, em que vivo atualmente, eu não entendo os empresários sem consciência, eu não entendo, simplesmente, eu não entendo.
Se prefere destruir a edificar, matar a viver em humanidade. Estamos nos condenando e as gerações futuras, pelo ganho momentâneo, pelo consumo desenfreado e desnecessário.
Querido diário viver é caro, custa vidas!