
Poesia é tua casa móvel:
às oito da manhã,
ela te despeja na rua
com versos nos bolsos
e frenesi nos sapatos.
“Vai!”, ela ordena.
“Tráfega em fúria, incendeia a rua com teu verbo.”
Tu obedeces.
Furas o caos,
colecionas alienações,
roubas enlevos.
Mas ao meio-dia,
quando o sol aperta,
ela te sussurra:
“Volta. Traz o que achaste. Vamos costurar contexturas.”
E tu voltas.
Sempre.
Porque poesia —
essa tua amante feroz —
é o único portão
que nunca se fecha.
Poesia de AdrianaFetter