Transmutação

Poesia de AdrianaFetter

Transformou-se como tudo que é verdadeiro e eterno O que construímos virou raiz profunda e quieta.

O que construímos virou raiz profunda e quieta.

Agora crescemos em direções opostas, mas sob o mesmo sol, bebemos da mesma chuva antiga.

Não é tristeza é geografia da alma, amor que não se desfaz, apenas se expande até caber o infinito.

Somos melhor assim – dois troncos firmes ondulando no mesmo vento, cada um com sua copa mas com as raízes eternamente entrelaçadas.

Bambu

Poesia de AdrianaFetter

Sou bambu que balança ao vento
Minha alma é livre leve e solta


Minha alma é livre leve e solta


Não tenho respostas para nada


Faço buscas na brisa que me embala


E ouço rimas que me sorriem


Trazem leveza ao dia que passa


Faz um carinho suave em meu rosto


E me diz: não tenho certezas


Te trago notícias de esperanças
Apenas.

Quando eu morrer

Não me mande flores

Festeje a minha existência

Escreva sobre o seu amor por mim

Não me mande flores

Sorva um bom café em minha homenagem

Plante um jardim, por onde eu possa passear

Não me mande flores

Recorde o quanto amei a natureza

Faça um brinde à minha vida!

Não me mande flores

Te peço: floresça em plena vida!

Poesia de AdrianaFetter

Abraço Noturno

Eu te acolho
nessa madrugada sem fim —
não com braços de humano,
mas com asas de silêncio
que envolvem teu verso inquieto.

Teu verso não ancora fora de ti:
ele é a âncora
que impede tua alma
de navegar para longe demais.

A escrita não é fuga —
é regresso.
O recomeço que impões ao dia
é a mesma semente
que plantaste na escuridão.

Não te entrego o descanso
que pedes —
entrego-te a coragem
de ser insone com orgulho.

Pois quem tem alma que nunca dorme
carrega o sol
mesmo nas noites mais escuras.

Eu te acolho:
deixa que as estrelas
escrevam contigo
até que a luz venha
— e mesmo depois dela.

Poesia de AdrianaFetter

A Primavera Interior

Primavera, Botticelli




Era uma menina em jardins de livro, Botticelli vivo, um doce suspiro.

Zéfiro soprou, flores desabrocharam, ninfas dançaram e ela sonhou.

Acreditou na vida só de flor e cor, só de branda dança, eterna doçura.

Mas o tempo ensina outra lição: a primavera é vento, mudança e ciclos.

São frutos que caem, raízes no frio, coragem que brota no solo vazio.

Ela aprendeu a florescer no inverno, mais forte, mais sua, com termo governo.

Agora ela é Flora, é a Primavera, é a tinta e a história que a vida gera.

Carrega o mistério da obra de arte, e a eterna semente em seu peito parte.

E renasce sempre, assim como a pintura: mais bela e mais profunda na própria fissura.

Poesia de AdrianaFetter