Voltei a escutar o que dedilhou na escuridão: cada nota, um fósforo aceso no escuro do meu não-lugar. Sinto a falta do seu tudo: o prometido que virou brisa, o entendido que desmanchou no tear do tempo. Admito: acordo em seus versos sem nunca ter dormido. Sou vigia da sua vigília, sombra do seu “jamais dormir”. Na transgressão do encontro (que não houve, mas houve), bebo seu “merecido realizar” como quem sorve o oceano por uma fenda na areia. Saudade? Não a nomeio mais. Deixo que ela me nomeie: o nó que aperta o peito, fruta verde do seu verso. Espero como você espera: o tempo que há de vir vestido de alvorada fria. E enquanto a noite dura, abraço seu reconforto como a asa quebrada de um pássaro noturno. Porque sei: a falta que você canta é o único abrigo onde meu silêncio, enfim, se reconhece casa.
Hoje, depois de quase quatro meses, eu vi meu filho, pela primeira vez, sem abraço, mantendo a distância de 2 metros, ele todo paramentado e usando uma máscara do Coringa, a sua predileta.
Esse foi o cuidado extremo dele, com a minha saúde, pela minha imunodeficiência.
Veio cedo até minha casa pegar dois notebooks antigos, para que as crianças das escolas públicas do DF possam fazer aulas online, iniciativa da minha nora, que tem pedido a todos os conhecidos.
O mundo está precisando de solidariedade, empatia, respeito.
Me deixa feliz saber que, aquilo que seria um lixo eletrônico, vai ser de grande serventia para as crianças sem recursos, neste momento de pandemia.
Foi muito bom estar com o Mateus, mas, olhando a foto, meu ser se toma por uma grande tristeza, me pergunto quanto tempo ainda vou levar para abraçar os meus filhos e os meus netos.
Desde o dia 14 de março saí uma única vez, com o meu marido, parceiro e incrível companheiro, para ir ao posto de vacinação, me vacinar contra H1N1.
Costumo brincar que não tenho problemas em ficar sozinha, gosto muito da minha companhia, meu marido é um dos que precisam trabalhar, mas estar alijada do convívio social de quem amo, traz uma emoção muito grande de melancolia.
Nessas horas me pergunto porque temos um desgoverno tão ordinário, que flerta com a morte o tempo todo, que só pensa em aumentar os limites de velocidade, tirar a segurança dos automóveis, em dar armamentos para a população, em dizer que uma pandemia é uma gripezinha, fico indignada.
A cada dia, dessa administração tosca, sou afastada da minha família. Aumenta o tempo de distanciamento social, dos abraços, dos beijos, das demonstrações de afeto.
Sou afetada intensamente por isso, minha raiva aumenta, pela desumanidade com que as pessoas são tratadas.
Ouvi, pela manhã, o reitor Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, sobre os últimos resultados da pesquisa ecovid, coordenada pessoalmente por ele.
Ele relata as proporções étnicas, sociais e econômicas dessa pandemia. Os indígenas morrem cinco vezes mais do que o restante da população brasileira.
O coronavírus é uma doença trazida da Europa pelos brasileiros ricos, que mata mais a população pobre, que não tem condições de manter distanciamento social e, muitas vezes, sequer tem sabão para lavar as mãos, que precisa sair as ruas, usar transporte público para trabalhar e colocar comida em casa.
O coração aperta, mesmo triste, eu ainda estou em vantagem.
Que saiam os políticos e entrem os administradores públicos, assim pode ser que o Brasil tenha alguma chance. Por enquanto, o meu sentimento é de desesperança, devido a irresponsabilidade política dessas criaturas.
Que desconsolo… Diante dos fatos, resta uma opção, rezar…
Transformar a dor em arte é o meu lema!
Escrevo poesias e prosas para expressar sobre a vida com mais beleza, leveza e fé.
Vêm comigo passear no mundo criativo♡