Chocolate quente

Ela sentou no balcão, pediu um chocolate quente, sabia que viria com um merengue açucarado. Tentava segurar as lágrimas.

Iria sorver as colheradas, adoçar a alma, já que a tristeza que invadia o seu peito doía como ferro queimando.

As atendentes conversavam e riam, ignorando aqueles sentimentos.

Quando a caneca chegou, a mais jovem deixou o riso morrer nos lábios ao perceber suas lágrimas escorrendo sem cerimônia. Deu uma cotovelada na colega, de olhos cansados — não por insensibilidade, mas por reconhecer aquele tipo específico de dor.

Se instalou o silêncio!

Saberia, depois, que faltava apenas uma hora para a morte, mas pressentia.

Estava deixando para trás o último abraço que dera no irmão, não voltaria a vê-lo vivo.

O corredor do hospital trazia para cafeteria os barulhos metálicos das macas e cadeiras de rodas, das portas que batiam. Havia o forte cheiro do álcool misturado ao desinfetante. Era melhor ouvir as pessoas da cafeteria.

O chocolate ajudava pouco, haviam gritos internos, que teimavam em sair expressados pela água que escorria pelo rosto.

Quem vende doce nos hospitais deve entender de dores.

Há um quê de curiosidade na relação do açúcar com a tristeza. Por instinto pedira um chocolate quente. Aprendera isso no velório do pai, quando alguém lhe colocara uma bala dentro da boca — gesto pequeno contra a dor grande. Agora, repetia o ritual com o chocolate quente, segunda tentativa de aplacar uma dor de morte.

No prédio do hospital, antigo e velho, transitava há dias. A lanchonete, escura e sombria, cumpria a função de alimentar as suas mazelas.

Os gritos internos teimavam em sair expressos pela água que lhe escorria pelo rosto. O chocolate ajudava pouco, mas ajudava. Quem vende doce nos hospitais, pensou, deve entender mais de dor que muitos médicos.

Eram dias tristes, dias de despedida de um amor fraterno.

Nunca mais o chocolate quente teria aquele sabor agridoce. Ou talvez, anos depois, viesse a descobrir que dores diferentes pedem consolos diferentes — mas esta, específica como uma faca, jamais se repetiria.

Provavelmente, seria o último da despedida.

Cunhadas

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A primeira casou com o meu irmão e  foi uma segunda mãe, era namorada do meu irmão quando minha mãe engravidou.

Fui sua aia de casamento com 3 anos, sempre cuidou que roupa eu vestia, se tinha calças ou meias limpas e me acompanhava na escola, onde estudava o curso normal. Somos muito amigas, companheiras de uma vida, apesar do meu irmão já ter se despedido de nós em 2006.

A segunda casei com o irmão dela, somos amigas, temos altos papos, ela sempre me surpreende com o seu dom artístico, me presenteia com eles, artesanato ou fotografia. Pega trechos dos meus poemas e inclui nas sua fotos lindas, que é a imagem do post de hoje.

Quem disse que se começa com a primeira sílaba não pode dar certo?!

No meu caso sou abençoada com a Nica e com a Marisol.