Comida conforto

Foto por Sultan Ali em Pexels.com

Existem comidas que por mais que eu saiba a receita jamais conseguirei reproduzir novamente. Sinto saudade delas, muita, tem particularidades no fazer, o fogão a lenha, uma panela que dava uma queimadinha leve, a forma de lata de óleo antiga, tudo acrescentava sabor único, sabor que o tempo se encarregou de levar embora. Sem repetição… Waffles feitos numa forma de ferro, assados direto no fogo a lenha, cada um dos buraquinhos tinha um dedo de fundura, em cada furo uma generosa porção de geléia, doce de leite ou nata, a gosto do freguês, waffles com gosto de vó. O mingau feito em uma leiteira de aço inoxidável, naquele tempo em que queimava, então tinha que mexer rápido, mas ainda ficava com um queimadinho bom. Esse tinha gosto de mãe, a minha nunca gostou de cozinhar, mas fazia mingau na minha infância, até hoje é a minha comida de conforto, um bom mingau. O lagarto assado lentamente no forno, recheado de toicinho, macio e suculento, acompanhado de macarrão com molho de tomate, gosto de pai, que cozinhava as vezes, ainda guardo esses sabores comigo. Assim são as lembranças das comidas que trazemos conosco, os aromas, cheiros, cheios de recordações. E você, qual é a sua comida de conforto, aquela que além de agradar o coração também aquece a alma?!

Caneca de inox

Na minha casa tinha uma caneca de inox, antiga, com o fundo levemente amassado, num dos lados, deve ter tido alguma queda. Queimava o leite ao ferver, mas fazia o mingau de maisena inesquecível da infância.

Na falta de uma sobremesa, tínhamos a alternativa de dois sabores. Hora leite com maisena e açúcar, ora leite com chocolate meio amargo (sim chocolate, aquele dos frades) maisena e açúcar, mas havia uma coisa inalterada, o gostinho queimado ao fundo.

Imagina esse mingau, comido, inúmeras vezes, em dias frios lentamente, – relíquia de recordação.

Raramente, minha mãe cozinhava, apenas em situações especialíssimas. Fazia o sarrabulho de Natal (segundo os entendidos uma delícia, feita do sangue do peru morto, para ser assado e consumido na ceia). Confesso que nunca tive coragem para experimentar. O mingau era uma das suas especialidades, repetido toda semana.

Sabor de infância, daquelas saudades inatingíveis. Ficou lá, perdido em algum lugar, algum recanto largado, junto com a caneca, deixada para trás, nas mudanças da vida.

Tem sabores da vida que não se consegue repetir. O mingau queimadinho, da caneca amassada, está guardado, ainda sinto o aroma e o sabor.

Bem estar – A comida que conforta

canja

Eu tenho várias comidas para diferentes momentos! Lembro de ter lido um livro,  Não é Sopa, da Nina Horta, que me marcou profundamente, mesmo sendo sobre comida, tinha receitas, mas não era o objetivo principal.

A Nina reuniu uma série de crônicas sobre comidas,  numa delas falava sobre comidas que confortam. Comida de feira, que ela traduz como perversa, a indiana, a austríaca, que me identifiquei por ser muito parecida com a da minha avó. A de funerais, um dos capítulos mais instigantes. Outro é sobre comida para apaixonados. Vale a pena ler…

Eu guardei com muito carinho esse sobre a comida que nos dá um bem estar danado.  Meu marido me faz uma canja deliciosa quando não me sinto bem ou adoeço, é a da foto acima, quem não se sentiria melhor com um prato feito com tanto carinho?!

Quando estou com frio vou para cozinha e faço um mingau, coisa de criança mesmo. Quem não lembra das comidas de família?! São as que mais nos tocam. A Rita Lobo fará a próxima temporada de seu programa sobre comidas de família, começou com gemada!

Me conta aí, qual é a comida que te conforta?!