

O Brasil perdeu hoje um titan da música, Nelson Freire se foi.
Em uma entrevista, o maestro Isaac karabtchevsky falou que o piano, para Nelson, era a extensão do seu corpo.
Uma das suas maiores dificuldades, nos últimos tempos, foi ter que se afastar do piano, sofreu uma queda e uma torção da mão, o que limitou a sua música, severamente.
Não foi um limite apenas físico, o deixou emocionalmente abalado.
Me trouxe à memória a situação de minha avó, quando foi proibida de cozinhar. Para ela também o fogão à lenha era a extensão do seu corpo. Cozinhar era viver, era vida, amor.
Não deixou apenas de cozinhar, foi se afastando da vida, daquilo que lhe fazia vibrar, do que a inspirava.
Eu acompanhei esse processo com tristeza, minha avó foi a mulher que mais influenciou a minha vida.
Forte, decidida, usava o cozinhar como forma de transmitir o seu amor aos outros, e o colocava em cada comida que fazia, e foram muitas, incontáveis
Decorava seus bolos com suas rendas de confeiteira. Recheou os nossos sentimentos vida afora com doçura, amor e dedicação.
Não usava afagos, usava colheres de pau, gamelas, panelas e o seu fogão a lenha.
A cozinha era a extensão do seu corpo e o fogão o seu instrumento.
Minha avó Olga, sem conhecer a rica teoria de propósito, sempre me fez entender o quanto é importante, na vida, se fazer o que se ama, aquilo que faz nossa chama interior arder e nos impulsiona, como um trem a vapor, vida afora.
Deixo aqui a minha divagação sobre vida, amor e propósito, o que na sua vida é a extensão do seu corpo?!