Parabéns para vocês!

Mais um ano de site, um ano de página Pós50.

Queria agradecer a vocês que fazem comigo esse trabalho.

Vocês que me lêem, que curtem, que compartilham, que fazem críticas, todos colaboram para o meu crescimento.

Tenho um agradecimento em especial para Sandra Aguiar Corrêa, que se tornou uma amiga neste desenvolvimento.

Nos conhecemos, pessoalmente, apenas em 2019, pela distância, eu moro em Brasília e ela no Cassino, a praia de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Metade do trabalho na página Pós50 é dela, eu cuido mais do site, já o grupo de mulheres é completamente dela❣️

Tinha uma frase que dizia pra ela, nunca te vi, sempre te amei, que aliás é um título de um filme maravilhoso que trata de uma relação de amigos à distância, sem nunca terem se encontrado, ainda na época das cartas.

Gente amiga o meu obrigada por mais um ano com o carinho e a companhia de vocês!

Horizontes

Ela tinha um olhar triste, o horizonte parecia não ter fim, assim como o seu sofrimento.

Não entendia o porquê de continuar ali, na verdade só fazia pela filha, queria lhe dar um futuro melhor que o dela.

Respirava fundo a cada dia e pensava, ela merece ter uma vida melhor que a minha.

Os dias passavam lentamente, quem mandou não estudar?

Dependia completamente do salário do marido, pelo menos ele pagava o estudo da menina e o plano de saúde, para ela restava a fila do postinho.

Antes do casamento todos lhe diziam é um partido de ouro você tirou a sorte grande, ela também pensava assim.

Homem estudado, tinha feito administração, trabalhava numa boa empresa ía lhe dar uma vida de futuro.

O futuro foi uma casa para limpar, que ele sempre dizia que não brilhava o suficiente, a comida para fazer, que nem aos pés chegava perto da da sua sogra e as roupas para lavar e passar. O esposo reclamava sempre do colarinho, não estava branco como deveria e sequer bem passado. Para que casara com ela, então?!

Tinha pensado em ser normalista, mas o pai não aprovara, isso iria atrasar o casamento e o genro o agradava muito, não queria que a filha perdesse essa grande oportunidade na vida.

Rita via os avanços da sua filha, melhor aluna na escola, valia qualquer sacrifício, ela realmente venceria, ficaria nesse casamento infeliz, a filha se formaria, como o pai, ela compensava sua tristeza com isso.

O inesperado um dia aconteceu, ela se apaixonou platonicamente pelo colega do marido, que sempre era convidado para sua casa.

A tratava com gentileza, um dia levou flores para agradecer pelo jantar. Percebia nele a amabilidade que nunca tinha visto seu marido lhe dispensar. Respondeu com um sorriso tímido: não precisava.

Ficava esperando Juvenal convidar o Roberto mais seguidamente, esses pequenos momentos lhe preenchiam o coração, mas não queria dar na vista, nem para o marido nem para a visita.

Bastava aquela visita para compensar os dias de tédio. Caprichava no jantar, sempre seguidos de elogios do convidado.

O marido, por sua vez, quando Roberto ía embora, lhe dizia: pelo menos na frente dos meus amigos eu não passo vergonha com a sua comida, por que não cozinha assim todos os dias? Podia caprichar mais para mim.

Ela nem ligava mais para as reclamações, estava feliz, não sabia explicar, mas estava feliz. Sua auto-estima aumentou. Resolveu mudar.

Procurou cursos na internet, em casa mesmo, queria se atualizar, preencher suas horas vagas.

O primeiro que encontrou que lhe agradou, como fazer uma maquiagem leve, sem muitas complicações. A partir daquele dia, seu rosto maquiava.

Depois achou um de empreendedorismo, o marido sempre falava nisso, ela quis entender do que se tratava, como gostou desse curso, pensou nas possibilidades de ganhar um dinheirinho próprio. Só não sabia como. Então pensou nos brigadeiros das festinhas da filha.

Fez um teste, uma panela de brigadeiro bem caprichada, enrolou bem bonitos. Ofereceu para S. Walter vender os doces na mercearia. Ele aceitou, deu um aviso: fico com esses se venderem bem encomendo mais. Vendeu!

Aos poucos Rita foi adquirindo uma chama interna que a impulsionava a crescer, percebeu que não dependia dos elogios de Roberto, mas que foi muito bom ter sido elogiada. Fez com que ela percebesse sua própria existência, descobriu a motivação.

Roberto deixou de ir jantar, trocara de empresa, mesmo assim isso não a abalou, tinha retomado sua felicidade interior, se gostava, se bastava.

Crescia com novos cursos descobertos, já fizera de o brigadeiro gourmet, bolos caseiros, de festa, investia no que entendia e gostava de fazer. Pela primeira vez se sentia valorizada por algo que executava.

A vizinhança encomendava, entrava um dinheiro extra, até a relação com Juvenal estava diferente, parecia que lhe respeitava mais.

Rita via o quanto se gostar transformava aos poucos a sua vida, ela se dera respeito e se fazia respeitar.

Aos poucos o horizonte se ampliava, ela se transformava e sua vida também.

Conto de Adrianafetter

Política – a minha ótica

Sempre fui servidora pública, por gostar das políticas sociais e de desenvolvimento, tenho 55 anos e há 45 acompanho a política brasileira.

Sim, comecei mais ou menos com 10 anos a ter noções sobre o que era a vida partidária. Era comum em casa se discutir política. Numa família em que de um lado havia os conservadores e de outro os questionadores, ambos disputavam as urnas.

Minha formação e consciência política começava assim. Além dos livros que meu tio Paulo seguidamente me emprestava.

Sou absurdamente defensora da democracia, vivi o regime de repressão e a redemocratização de nosso Brasil.

Tenho uma percepção que até hoje o que nos falta é memória, pois políticos da minha infância continuam no cenário nacional, mesmo acusados, alguns julgados e condenados, sendo votados eleição após eleição.

O que deve mudar?! Com certeza o nosso voto, nós a chamada população brasileira! Se eles não mudam, podemos mudar a posição que eles ocupam, trocar a pessoa que estará lá nas próximas legislaturas e no executivo.

Mas cuidado, estamos lidando com o nosso futuro, não jogue esta oportunidade no lixo, sequer faça dela uma aventura. O seu voto junto com os demais podem mudar o nosso país. Vamos renovar.

Pense no país que você quer, deixe de pensar só nos seus interesses!

Eu votarei em mulheres, por quê?! Não me acho representada, os homens que fazem as políticas para as mulheres, eu te pergunto, o seu namorado, marido, irmãos te entendem?! É fácil achar o porquê. Além do mais somos 52% da população e 10% no Congresso, continha que não fecha essa.

Também não acredito em quem só fala, vive da política, virou um profissional dela, com salário garantido no final do mês, e, na real, nunca fez nada para melhorar a vida dos brasileiros, não vai ser agora que irá fazer.

É isso, não vou me furtar, vou votar, vou mudar para a política que quero ver ser implementada…

Ruínas de Preconceito

Rute pegava o metrô todos os dias. Ia cedo para o trabalho, nem sempre conseguia entrar no vagão exclusivo para as mulheres. Às vezes cheio demais, outras vezes ele já estava parado lá embaixo, na descida das escadas. Tinha que correr e entrar na primeira porta do vagão.

Via muitas colegas reclamarem do assédio nos transportes. Nunca tinha visto nada. Então, na sua cabeça, já tinha um pensamento pronto: “Deve ser a roupa ou os modos delas. Por isso venho sempre vestida como mulher de respeito, ninguém me incomoda.” Nem dava ouvidos. Afinal, a culpa era delas que não se davam ao respeito. Ela tinha sido muito bem educada. Na igreja, todos elogiavam sua seriedade.

Ouvia, vez em quando, maledicências na sua paróquia. Algumas famílias tinham se mudado, falaram que o padre não era sério. Como assim?! Até nome de santo ele tinha! Padre Antônio, era caridoso, ensaiava o coral de meninos, que tratava com muito carinho. Do pastor da igreja da Dona Cida também tinha comentários, de desvio de dinheiro e envolvimento com mulheres do Bairro. Para Rute era muita maldade dessa gente, ficar falando desses homens escolhidos para pregar a palavra de Deus.

Na segunda-feira, se atrasou. Cinco minutos, mas o metrô não espera. Correu, passou seu cartão na catraca, desceu a escada rolante pedindo licença, se lamentando: “Como fui deixar isso acontecer?! O chefe não gosta de atraso… Tá certo que ele chega bem depois, mas liga só para saber se já cheguei, diz que é para dar bom dia, é uma gentileza… e eu atrasada.”

Nem sabe como conseguiu entrar no vagão. Lotado. As portas fecharam com um estalo seco. Na sua frente, um senhor muito distinto, barbeado, impecável no terno, sorriu: “Bom dia!”. Ele também tinha vencido o atraso, parecia feliz. Ao lado, um rapaz de rabo de cavalo, roupas largas e coloridas – exótico, logo pensou. Como essas pessoas conseguem se vestir assim?! Mas o rapaz respondeu ao seu bom dia, educadamente. “Ao menos sabe dar um bom dia.”

O senhor distinto impressionava. Ele se aproximou como se fosse descer na próxima estação. Encostou nela. “Nossa, está muito cheio hoje”, pensou, tentando se acomodar. O senhor não desceu. Continuou encostado, pressionando-a contra a parede fria do vagão. Rute ficou dura. Uma paralisia estranha tomou seu corpo. Não conseguia olhar para os lados, constrangida. Sentiu o calor dele, o tecido grosso do terno contra seu braço. De repente, percebeu um movimento ao seu lado. “Deve estar pegando a carteira”, tentou racionalizar, enquanto uma pontada de desconforto subia pela espinha.

Os movimentos foram ficando ritmados, intensos. Um vai-e-vem estranho, insistente. Rute congelou. O ar faltou. Antes que pudesse reagir, o jovem esquisito se colocou entre os dois, empurrando o homem com força. “Não tem vergonha, não?! Se veste assim pra quê? Pra se esconder enquanto desrespeita uma mulher?!”

Aí ela teve coragem de olhar para baixo. Seu sapato social preto estava encharcado. Uma substância esbranquiçada, gosmenta, escorria pela fivela e manchava a meia-calça. Um cheiro ácido, adocicado, invadiu suas narinas. As lágrimas afloraram, quentes e silenciosas, escorrendo pelo rosto enquanto tremia feito vara verde.

O rapaz voltou-se para ela, a voz mais suave: “Moça, não fique assim. Eu vou te ajudar.” Chamou o guarda do metrô enquanto segurava firme a gola do terno do sujeito, que tentava se esquivar, o rosto antes distinto agora contraído em um ricto de raiva e medo.

O caminho até a delegacia foi um borrão. Rute caminhava como um autômato, guiada pelo rapaz – Tiago, soube depois –, sentindo o peso dos olhares curiosos, o sapato grudando no chão. A vergonha queimava seu rosto. O que está acontecendo? O mundo, sólido e previsível minutos antes, desmoronava. Tinha uma repórter lá, microfone em punho. “Senhora, pode nos contar o que aconteceu?” Rute abriu a boca, mas só saíram sons roucos, sílabas truncadas. Balançou a cabeça, as lágrimas renovadas.

Tiago interveio, calmo mas firme: “Essa moça entrou no metrô, estava lotado. Aquele cidadão, todo engravatado, se masturbou ao lado dela. Sujou os pés e os sapatos dela. É um sem-vergonha, sem caráter. Ela está em choque. Eu vim junto pra dar suporte.”

Rute não entendia mais nada. O senhor distinto era um depravado. O moço esquisito era uma boa alma. A cabeça girava, o chão parecia ceder. Pediu para chamar o marido. Dentro dela, uma culpa aguda latejava: O que eu fiz de errado?

José chegou como um furacão, a cara uma tempestade. Antes mesmo de olhar para ela, cuspiu as palavras: “O que foi que você fez, Rute? Não se dá ao respeito?!” Avançou para cima de Tiago, os punhos cerrados, pronto para acusar o alvo mais óbvio.

Rute encontrou uma voz que não conhecia, rouca mas cortante: “Pára, José! O moço me ajudou tempo todo!”

José estacou, confuso. “Então quem foi o desgraçado, Rute?!”

“Foi esse homem de terno”, ela murmurou, os ombros curvados sob o peso da vergonha e da desilusão.

“O de terno?!” José replicou, incrédulo, apontando para o agressor já algemado. “Não é possível! Ele é um senhor distinto! Quando chegarmos em casa vamos conversar, dona Rute!”

Tiago tentou novamente: “Senhor, ela não tem culpa nenhuma. A única coisa que ela fez foi entrar no vagão do metrô.”

José revirou os olhos, alterado: “Sai daqui, você! Não entende nada. Todo estranho, com esse rabo de cavalo… Deve ser mais um depravado da vida!”

Rute chorou então não só de medo ou vergonha do ocorrido, mas do marido. Dos anos vividos ao lado desse homem que, naquele instante, era um completo estranho. Ele sempre disse que tirou a sorte grande com uma mulher de respeito… As palavras de Tiago, como um fio de lucidez, ecoaram: “Ela não tem culpa nenhuma.”

Tiago, antes de ser empurrado para longe por José, conseguiu deslizar um papel na mão gelada de Rute: “Dona Rute, meu telefone. Se precisar do meu depoimento, estou às suas ordens.”

“Vaza, moleque!”, José rugiu. Virou-se para Rute, o desprezo escorrendo: “Nunca pensei que você fosse me humilhar desse jeito. Que vergonha, meu Deus.”

Em casa, o silêncio era um terceiro personagem, pesado e hostil. Rute só queria apagar aquele dia. Ainda tinha que enfrentar o chefe. Ligou, a voz trêmula: “Dr. Eduardo, aconteceu algo grave… Lhe explico amanhã.” Desligou antes que perguntassem mais.

José explodiu novamente na sala. Rute virou para ele. Os olhos vermelhos, mas secos agora, encontraram os dele. Uma chama fria acendeu dentro dela. “Para de gritar. Eu sou a mesma Rute. Não fiz nada demais. Não sei por que aquele homem fez isso. O Tiago foi um anjo que Deus mandou na hora.”

“Anjo?!”, José bufou. “É um fedelho qualquer, se aproveitando pra aparecer!”

Pela primeira vez, Rute viu José com clareza. E viu a si mesma refletida naquele olhar cheio de preconceito e desconfiança.

Fechou-se no banheiro. A água quente do chuveiro não lavava a sensação de sujeira, nem o cheiro fantasmal que insistia em suas narinas. Vestiu um roupão, fez um chá. Sentou-se à mesa da cozinha, a escuridão lá fora espelhando a que sentia dentro. As histórias das colegas voltaram, nítidas, dolorosas. A da Maria… Lembrou do dia em que Maria chegara ao trabalho com os olhos inchados e um rasgão na blusa. Contara, entre soluços, como um homem tentara arrastá-la para uma rua escura. Conseguira fugir. Desde então, o marido a chamava de “vadia”. O casamento desmoronou. Maria saíra de casa, enfrentando a reprovação dos pais – “Casamento é pra vida inteira!” – e encontrara apoio num grupo de mulheres. Falava de sororidade, de feminismo.

Rute achara tudo bobagem. “Coisa de mulher sem o que fazer”, pensara. Mas via a mudança em Maria, uma força que brotava dela. Rute sempre se calara, ficara na sua.

José não quis deitar na mesma cama. “Durmo no sofá”, anunciou, a voz carregada de acusação. “Coisas assim não acontecem com mulher séria”, resmungou, indo embora. A sentença pairou no ar.

Rute acordou antes do sol. Uma coragem nova, desconhecida, pulsava em suas veias. Encontrou José na cozinha, evitando seu olhar. Parou diante dele.

“José”, disse, a voz clara e estável, surpreendendo-a. “Eu sei quem eu sou. Sei o que faço e o que não faço. Você casou com a mesma mulher que está aqui na sua frente. A mulher que não fez nada para aquele homem, a não ser dar bom dia ao entrar no vagão. Não estou mais te reconhecendo, José. Você não é o homem com quem me casei, que fez os votos na igreja comigo. Acho que você não os entendeu. Então vou repetir: *Prometo amar-te e respeitar-te na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da minha vida, até que a morte nos separe.* Respeito, José. Eu vou trabalhar. Enquanto isso, você decide onde vai dormir hoje à noite.”

A surpresa estampou no rosto de José. Ele engoliu seco, desviou, mais uma vez, os olhos, batendo as mãos inquietas sobre a mesa. Rute virou-se e saiu. Quem era aquela mulher? Gostou de não saber, ainda. Gostou mais ainda do silêncio atônito que deixou para trás.

O caso estava no jornal da TV. Ao chegar no trabalho, o ar mudara. Maria veio correndo, envolveu-a num abraço forte, quente. “Estou contigo, Rute. Pode contar comigo.” Outras colegas se aproximaram, abraçaram-na, murmuraram palavras de apoio. Algumas ficaram distantes, nos cantos, como ela mesma ficara tantas vezes. “Devem estar pensando que mereci”, passou-lhe pela cabeça, mas a dor era menor agora.

Na sua mesa, uma única rosa num copo de água. Um bilhete do chefe: “Bom dia, Rute. Já sabemos. Se quiser conversar, minha porta está aberta. Mas não precisa se explicar. Fique bem.”

O abatimento ainda a tocava, mas agora era contrabalançado por uma onda de alívio. Encontrara no trabalho o apoio que José lhe negara. O abraço que precisava, o afago para a alma machucada.

Na hora do almoço, procurou Maria. “Maria…”, começou, a voz um pouco hesitante, mas os olhos firmes. “Quando tiver a próxima reunião do seu grupo… Eu gostaria de ir. Se puder. E… por enquanto, você pode me explicar o que é esse feminismo que você tanto fala?”

Maria sorriu. Um sorriso triste, compreensivo, cheio de uma luz nova. Apertou a mão de Rute. “Claro que sim, amiga. Claro que sim.”

Dentro de Rute, algo novo nascia, frágil e forte ao mesmo tempo. Não sabia ainda quem era essa mulher que emergia das cinzas. Reconhecia-se cheia de preconceitos que agora lhe pareciam grotescos. O rapaz que julgara pelo visual fora seu anjo da guarda. A colega que desdenhara era seu porto seguro. O chefe que temera era um aliado. E o marido que idolatrara… José ainda era uma interrogação dolorosa.

Seus preceitos mais arraigados ruíam. Junto com eles, caíam os muros altos dos seus preconceitos. Rute começava a desvendar um mundo e uma vida até então desconhecidos. O trabalho seria longo: varrer as velhas ruínas e, tijolo a tijolo, palavra a palavra, reconstruir-se.

Conto de Adrianafetter

O copo

Ela caprichava na limpeza da casa, afinal tinha acabado de mudar para o centro, queria tudo brilhante, mesmo que sempre tenha sido asseada.

Agora que tinha mudado para o centro. Finalmente ela e o marido haviam saído da Fazenda Couto, 29 assassinatos de fevereiro a abril, aquilo não era vida. O Alto de Amaralina era o paraíso.

O tempo de ônibus então, oxe oh gente, aquilo que era vida, chegava no Rio Vermelho rapidinho, era só subir a rua e estava em casa. Carlos, seu marido também, pena que peão de obras nunca sabe o endereço da próxima onde será.

Tinha tanto orgulho da sua vida, fez até a quarta série, depois um curso de cozinha no Senac, facilitou muito a vida para conseguir o emprego na casa da D. Mercedes. Ela sempre lhe dizia: Rosilene você é uma banqueteira de mão cheia.

Acordava às 5h, para cozinhar antes de pegar no batente, fazia a marmita do marido rapidinho. Era econômica, aprendeu no curso a reaproveitar tudo, sabia até fazer salpicão de cenoura, repolho, casca de abóbora e um pouquinho de frango, era um elogio só na família. E o seu bolo de casca de banana então?! Só ela sabia o segredo.

Só se incomodava com uma coisa, o copo. O marido saía às 6h, ela as 6:30. Enquanto a comida ardia no fogo, ela limpava e arrumava a casa. Deixava tudo organizado, a noite era só lavar e passar a roupa. Na hora de sair, passava um batom e tomava um copo d’água, que quentura é essa da Bahia, gente?! Corria para não perder o ônibus das 6:20. Não gostava de atrasar.

Na pressa o copo ficava em cima da pia.

Carlos chegava antes dela, que só voltava para casa depois de servir o jantar da D. Mercedes.

Era só ela entrar em casa, antes mesmo de beijar o marido e ela já ouvia: que diabos Rosilene, todos os dias é a mesma coisa, não consegue lavar um copo?

Ela suspirava pensando, “Que homem é esse que não vê tudo que faço em casa? Só fala desse maldito copo?!” Ele não via, não percebia o quanto ela trabalhava para deixá-lo feliz.

Dentro dela havia uma revolta latente. Pensava, o copo vai ficar na pia mesmo, não vou perder o meu ônibus por conta dele.

E os dias íam passando e a reclamação era constante ao chegar em casa. Por orgulho ela começou a deixar o copo todos os dias em cima da pia.

Era um copo de requeijão que a dona Mercedes tinha dado para ela. Os do casamento, comprados nas lojas americanas, estavam guardados embaixo da cama, não ia usar copos tão bonitos. D. Mercedes sempre dava mesmo, tinha mais de uma dúzia.

Pensava, que gente, vai gostar de requeijão assim! Coisa mais sem graça, bom mesmo é minha tapioca com manteiga de garrafa.

Chegou em casa naquele dia cansada dona Mercedes tinha convidado 12 pessoas para jantar. Mas fazer o que? Era o serviço dela…

Carlos estava revirado, nossa, cruz credo, o homem tava vermelho, já começou a esbravejar, não sabe nem lavar um copo?! Que coisa Rosilene!

No dia seguinte ela acordou mais cedo, fez todo o serviço de casa, esperou Carlos sair.

Pegou seis copos de requeijão. Passou batom vermelho, beijou cada um deles e deixou em cima da pia, como um beijo para o marido. Carlos não é pessoa ruim, só vive muito cansado, ela pensava, sempre desculpando.

Saiu para o serviço sem nenhum atraso.

Quando voltou começou a ladainha copo pra cá, copo pra lá e ela ouviu calmamente. Afinal, Rosilene era pacata não gostava de briga.

Ela então se aproximou da pia, pegou o primeiro copo e atirou nos pés do marido. Fez assim com o segundo, com o terceiro, com o quarto, com o quinto e com sexto. Enquanto ele gritava: o que é isso mulher?! Você enlouqueceu?! Não é de briga mulher! O que está acontecendo? Por que isso? Eu, eu só falei do copo, eu não fiz nada! E os cacos explodindo e sendo atirados para todos os lados.

Naquele dia, ela não disse uma palavra, não lavou nem passou a roupa, foi deitar e dormir, afinal era filha de Deus.

Quando acordou dia seguinte a cozinha estava varrida, Carlos tinha feito o café, lhe deu um beijo e foi para o trabalho.

Daquele dia em diante, quando Rosilene chegava da casa da D. Mercedes, não encontrava mais o copo na pia, ele já estava lavado e guardado na prateleira de baixo.

Conto de Adrianafetter

Comunhão (AF)

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Estranho perceber
Que a vida pode ser muito mais
Mais carinho, ternura, afeto…
E, isso, aos poucos me tomar conta
De uma forma inusitada
Como se o universo me penetrasse
Fazendo aflorar todos os sentidos do corpo
E saber, que você amado e desconhecido
Venceu as muralhas que resistiam bravamente
Para que finalmente eu fosse sua
Sem restrições, só sua!
Apenas sentindo …
Comungando em seu corpo
Sem nunca tê-lo tocado
Mas sendo completamente tocada por você
Não sei se isso é poesia,
Só sei que meu corpo leu cada verso!

poesia Adrianafetter

O melhor carnaval da minha vida

Naquele dia minha amiga me disse: porque não gostas de carnaval? Pensei um pouco, reservadamente, em minhas lembranças infantis, homens mascarados, encapuzados com uma fronha preta enfiada em suas cabeças, com olhos e bocas vermelhas, se aproximavam gritando, ainda me causavam arrepios, não era festa, era medo.

Era apenas uma mera conversa, mas a mente adentrava em seus labirintos sombrios. Respondi, não sei, apenas não gosto.

Regina me disse, já fostes à Salvador?! Eu apenas passara por lá, sequer tinha idéia do que era o carnaval na Bahia.

Ela emendou: você não gosta de carnaval porque nunca foi ao de Salvador, lá o carnaval é do povo, vou todos os anos.

Pensei cá com meus botões, duvido, mas apenas sorri.

Naquela época eu mal vivia, cumpria rotinas, em casa. Apenas segui meu caminho achando que era feliz.

Estava num relacionamento de um controle que não era claro, aparente, vinha em forma de perguntas simples: passou na padaria, temos lanche, que horas chegou, almoçou onde, por que demorou tanto? Ou opiniões sobre amigas, melhor se afastar, não está a sua altura.

Ao tempo que se mostrava uma vítima para mim: não almocei, a comida estava intragável, você não cuida direito da casa, esperei até essa hora para você trazer um lanche decente, me sinto mal quando você sai com colegas de trabalho, sempre existe um perigo de uma interpretação indevida, estou cuidando de você.

Nunca viajávamos, apenas para visitar a família, qualquer outro plano estava fora de cogitação, sempre era caro demais e um gasto desnecessário.

Fui envelhecendo aos 30 anos, me vestia como uma idosa, o brilho do olho não existia mais, eu só trabalhava, muito. Era a minha fuga a felicidade indo, melancolia instalada aos poucos, despercebida por mim.

Um dia ele se foi, não havia mais a quem dar explicações, eu podia sair, eu podia respirar, sem reclamações, enfim só.

Assim a vida se descortinou, podia simplesmente percorrer a cidade de carro, sem horário para chegar em casa, ver as novas árvores floridas, como nunca as tinha visto.

Então, arrebentando de vez os grilhões, resolvi finalmente passar o carnaval em Salvador. Sem compromissos, conhecer o que a Regina falava ser o melhor carnaval de sua vida.

Queria dançar, mostrar a todos a minha alegria, me diziam, se quiser você será beijada a cada metro. Mais que beijos eu queria o prazer de estar comigo.

Estava solteira, feliz, e na rua dancei, precisava voltar a me amar, ver um mundo novo de cor, deixar a vida me levar.

Era tanta gente resplandecente, eufóricos, desde a Barra até Ondina. Me contagiei nesta opulência. Olhava para os lados e podia perceber aflorar por todos os meus poros os meus sentidos.

E no bloco dos mascarados, ali me vi cantando e dançando, nascia uma mulher que prometia a si mesmo nunca mais deixar de viver.

Conto de Adrianafetter

Conto de uma paixão em devaneios

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Quando cruzamos nossos olhares, tu ainda ajoelhado, acabaras de escrever o poema, eu finalizando as máscaras com as quais iríamos encenar, já sabíamos, que, de alguma forma, havíamos estabelecido um encontro. Senti assim. Foi de fato a primeira vez que nos vimos, apesar dos três dias já passados na oficina.

Nos contemplamos assim o dia todo, os olhos rapidamente se fitavam, surgia um sorriso breve e voltávamos às atividades.

O dia durou 48 horas, como demorou, a confraternização nunca chegava, ali estaríamos livres.

A noite, trocando conversa com colegas, senti tua mão nas minhas costas até encontrar a minha, ficamos assim de mãos dadas, sem que ninguém percebesse. Criastes uma forma de discrição nova, a tua mão direita pegava a minha esquerda pelo dorso.

Numa troca rápida de palavras, a sós no meio de todos, te falei do meu nervosismo, a resposta que ouvi foi sensível, homens também são assim, voltam a ser adolescentes, só não demonstram nem confessam que estão nervosos. Voei nessas palavras…

Não tivemos a oportunidade de nos conhecer por palavras, a atração mútua nos calava tal a intensidade.

Entendi que eras livre como eu e me atirei…

A tua barba roçava na minha pele enquanto éramos iluminados pelo luar.

Dia seguinte iríamos partir, tu regressarias para a chapada. Eu não sabia se era um encontro intenso de um único dia.

A troca havia sido intensa, não sei qual disputa era maior, pele ou palavras. Nos veríamos em algum futuro, quando ou onde não sabia.

Não tive reservas contigo, me destes essa oportunidade e foi tão bom, tão especial, para alguns apenas cama, para mim um momento em que a lua surgiu na janela e me abençoou, porque eu estava contigo, um homem singular.

Tocamos nossas vidas e uma pergunta latejava, quem somos nós?

Ficou o teu dizer: querida a sua imagem é tão leve que voa.

Quando te encontrei novamente estava longe de casa, ias me buscar no aeroporto. Não estavas lá, apenas uma amiga comum me dizia que eu iria entender tudo. Mergulhei numa desordem interior, tu não estavas só, acho que consegui dissimular meu caos.

Fui simpática, mostrei uma falsa alegria e cordialidade. Minha expectativa de um reencontro acabara de naufragar.

Foquei no trabalho que fui organizar, contigo. Parte de mim pedia a amorosa contemplação de antes, a outra adentrava na frustração. Então havia uma família constituída, encoberta na troca de nossas mútuas mensagens.

Como realmente sempre fui, segui independente durante minha estada. Te perturbei com a minha liberdade, não podias transgredir. Minha resposta ao desencanto. Nada fiz, apenas circulava com desenvoltura e o escondido orgulho ferido.

Te percebi confuso e atônito, sem domínio do teu território, que agora era meu.

Apresentada por ti ao teu melhor amigo, alucinastes, quando o vistes inebriado com a minha fala, perdestes finalmente o controle, a tua mão no braço dele, olho no olho te perdestes, confessastes: essa mulher é minha. Tentativa de limitar qualquer prosseguimento dele, que sequer era correspondido, mas me assegurei da conquista final do teu terreno.

O calor infernal da cidade ajudou o meu desfile livre, leve e solta nas minhas vestes etereas. Te provoquei até a despedida, de vermelho, recém banhada, iria ao último evento e depois para o aeroporto. Me falastes que eu era a imagem saída de um filme, a dama de vermelho, um dos poucos momentos em que nos falamos. Eu mesma achava que a similaridade era com Lanternas Vermelhas, bem mais melancólico.

Me senti vingada, afinal, me transformei no teu estorvo, mas também sangrei.

O que eu faria agora com o meu arrebatamento? Onde guardaria meus sentimentos? Minha mente girava em pensamentos vãos.

E agora voltas ao meu territorio. Me sinto confusa, dividida entre paixão e dissabor.

Tu chegas amanhã e, como te falei no primeiro encontro, houve um despertar de boas coisas em minha vida com teu olhar. Teus olhos e visão especiais, sensíveis e cativantes, mas também aflitos, nervosos e carentes me desconcertaram.

Depois veio a frustração. Na minha ignorância me senti uma transgressora.

E agora tu estás chegando, com tua fala mansa, voz rouca, quase sussurro e eu aqui com uma vontade louca de voltar à nossa primeira noite.

Em mim há uma segregação entre corpo e mente, mas ainda quero reassumir a ti no meu controle, no meu pertencer.

Se deixares, vou te envolver em meus braços, te carinhar, e balançar até que durmas, ah, e como precisas dormir, vejo isso, podes dormir, vou te acalentar, cantarei baixinho, velarei teu sono, e sabes? Podes te entregar por inteiro, sem reservas. Aqui, neste momento, mora teu reino de paz, podes gemer, chorar tuas mazelas, te darei colo, não me perguntes o porquê, sinto apenas que agora tu precisas.

Também te darei conforto, te sentirás abrigado. Já tivesses essa sensação única da minha entrega. Te darei de novo!

Me pergunto, o que eu quero disso e me respondo: o instante que tiver, mergulhando rápido, profundo, nessa montanha russa que és tu.

Não, por favor, não te assustes, não te quero só para mim. Tenho a minha liberdade, sou diferente, quero hoje ser amada, depois uma amiga com quem tu poderás contar, te abrir, temos uma construção de vida parecida, somos rebelde, por isso te entendo e estarei aqui, se precisares!

Te digo ainda: sim quero a tua cama, como me senti bem nela, seduzida, confortável, bem amada, mas não fiques assim vaidoso, sei que posso corresponder a altura.

E quando tu te fores, restará uma bela lembrança, uma fusão maior que corpos, a união de duas pessoas que um dia se encontraram, confluíram.

Então te digo: te espero, podes vir e voltar em paz!

E aí tu viestes assim, carinhoso e carente e revivemos o dantes.

Passamos a noite juntos, ficastes comigo 24 horas.

O tempo foi curto, porém intenso, dia seguinte, ficamos lá em casa abraçados até a hora do aeroporto.

Tu me falastes que te detivestes me cuidando enquanto eu tabalhava. Ficastes encantado e como me achastes inteligente, percebestes que eu pegava as coisas no ar, que outros falavam e eu já articulava o próximo passo, que eu daria uma ótima produtora, elegante, sensível, encantadora.

Pedistes que eu te ligasse, respondi que não faria isso, que a minha viagem a chapada tinha sido muito louca, mas que foi bom porque consegui perceber como eras no teu território.

Foi uma situação das mais difíceis pela qual já passei. Meio se desculpando me dissestes que estavas atordoado. Quando cheguei te encontrei confuso, havias retomado a relação com a tua mulher, mas quando eu assumi a situação, sem dar nada na cara, fostes te tranquilizando, até ficar novamente fascinado com a minha desenvoltura.

Ouvir isso foi muito bom, muito intenso e sem saber do futuro … Então me dissestes: volto daqui a 20 dias.

Não aconteceu.

O que eu posso te dizer?

Que temos ciclos, que é necessário morrer para renascer, que pode ser um inferno astral, mas vai passar.

Enquanto tudo está difícil, apenas gostaria de ter um mágica especial, para que num passar de mãos tudo simplesmente sumir, problemas, dores confusões, mas não sou mágica, então só pude te oferecer minha amizade.

Sim, amizade, sei os territórios que me pertencem, dou apoio e ombro amigo, nada mais.

Estou viajando, só consigo lembrar de cotovia de Manuel Bandeira, os últimos versos, realmente gostaria de poder torcer o destino e no espaço de um segundo limpar o pesar mais fundo.

Vamos nos cuidar, não olhar o abismo, ele é uma ilusão passageira.

Como é difícil a insustentável leveza do ser. Tu abalastes o meu mundo. Me joguei com toda a minha segurança. Agora me olho no espelho e me digo: preserve-se!

E me retomo, aqui eu determino quando começa e quando acaba.

Conto de Adrianafetter

O que não pode ser resolvido, resolvido está, será?!

Sempre defendi esta tese, mas existe uma diferença entre sermos independentes, é termos pessoas que dependem de nós.

Outro dia mesmo afirmei isso para o meu marido, estava preocupado, esperando uma resposta que não vinha, não dependia dele, pedi para ele relaxar.

Depois me coloquei no lugar das pessoas que sustentam a suas famílias e que estão desempregadas, fazendo bicos, para que os filhos possam comer, ter um mínimo de vida digna e estudar.

Para elas não existiu o resolvido, para elas há somente uma grande pressão nos ombros, um mundo a ser carregado.

Há uma enorme diferença entre pequenos problemas, aqueles que nos preocupam no dia-a-dia, mas que não vão afetar efetivamente a nossa vida e grandes problemas, que são aqueles que pessoas sofreram as consequências do que não podemos fazer, que está além dos nossos limites e alcance, está além das nossas mãos.

Quando você estiver pra baixo pense naquelas pessoas que a conta de luz e de água está chegando, que o gás acabou e sequer tem 10 reais para comprar pão e trazer para casa.

Sei que parece um discurso fácil o que eu estou escrevendo, banalização do cotidiano. Realmente não é, tenho visto e vivido problemas e vejo que tem gente muito pior do que eu.

Não que isso seja um consolo, o que eu gostaria mesmo é que as pessoas pudessem superar as dificuldades em suas vidas sem sofrimento.

Me solidarizo com o sofrimento dessa gente, com quem luta no dia-a-dia, e ainda procura a tal felicidade e que consegue, com o pouco que tem, superar os obstáculos e ainda fazer a vida dos outros um pouco melhor.

O seu melhor tempo é o presente

Aqui e agora

Como você está tratando as pessoas que vivem ao seu lado? Como você reage a um carinho, quando alguém fala com você, mesmo que você esteja ocupado?

Não deixe para depois, porque o seu melhor tempo é agora, o amanhã pode ou não acontecer, tudo muda em um segundo. Muitas vezes não temos segunda chance de dar atenção ou afeto.

É tão triste nos arrependermos de não ter feito alguma coisa, ou quando gostaríamos de ter feito diferente, gostaríamos de ter dado mais atenção e mais carinho a uma pessoa e isso não aconteceu.

O tempo nunca volta ele aqui e agora.

Uma frase que a minha mãe sempre disse: ajuda de criança é pouca mas quem recusa é louca . Carrego isso comigo.

Muitas vezes, quando estamos ocupados, nosso filho pequeno chega e tentar de alguma forma chamar nossa atenção, ou tenta ajudar, ou ainda nos conversar, a irritação por vezes é imediata, porque vamos perder tempo. Pondere, nem sempre você terá seu filho seu lado por toda vida.

As crianças crescem e vão viver a suas vidas o tempo que temos é o aqui e agora. Será que realmente não podemos perder cinco minutos?!

Que sociedade é essa em que vivemos que não podemos parar para atender a quem amamos, porque estamos sempre ocupados?

Temos que repensar a importância do nosso tempo, das pessoas em nossas vidas e que relação temos com cada uma delas.

Tem gente que vem e passa por que cumpriu sua missão em nossas vidas, ao nosso lado, tem gente que ficará para sempre conosco, ou na nossa lembrança.

Uma coisa que eu sempre tentei fazer na minha vida foi acompanhar a quem eu amo, não deixar para depois o meu afeto, não ter arrependimento na despedida.

Dei esse exemplo para o meus filhos, que, mesmo morando longe, sempre viajaram para visitar seus bisavós e seus avós, porque isso tem que ser feito em vida, demonstrar o amor no agora.

Coloquei uma música aí em cima e outra aqui embaixo, parem para ouvir, percam alguns minutos, porque o amanhã é o passado, o futuro é incerto e o que temos é o presente, o aqui e agora.

A vida se resume em encontros e despedidas , vamos nos amar mais.

Estereótipos, uma visão equivocada da vida

“O que eu não gosto no Brasil é a moralidade dos imorais.” (Odair José)

Assisti ao programa do Pedro Bial com Odair José e Monique Gardenberg.

Odair está lançando mais um disco Gatos e Ratos e a Monique é a diretora do filme Paraíso Perdido, estreando no Brasil.

Acho que vocês deveriam ouvir o disco e ver o filme, principalmente pessoas que, como eu, ouviam rádio nos anos 70 e assistiam ao programa do Chacrinha, ou quem curte todo e qualquer tipo de música.

Pedro Bial fez um trabalho sensacional de resgate do Odair, aquele cantor e compositor que falava sobre pílula, empregada doméstica e prostitutas.

Que ficou marcado como cantor brega, mas que tem um conhecimento social e opiniões de uma profundidade ímpar, muitas vezes censurado na ditadura. Disse ele que sempre escreveu aquilo que via nas nossas ruas e na sociedade.

Na entrevista temos depoimentos marcantes de seus admiradores, Caetano Veloso, Zeca Baleiro (que faz a direção musical do filme) e Zuzu Angel.

Monique segue essa linha e narra toda a historia que a levou a fazer um filme sobre esse tipo de música e sua homenagem ao Odair e as músicas de uma época, hoje consideradas bregas, mas que contam história de pessoas comuns, da sua realidade social, passando por temas sobre preconceito e sexualidade.

Amei ouvir as músicas do Odair, que eu sempre gostei, que foram regravadas por varios artistas famosos. Aliás, eu tenho um disco só de músicas do Odair José, regravadas por Titãs, Monbojó, Caetano, dentre outros.

Odair se diz um artista da crítica social e do preconceito, é um autêntico e ótimo roqueiro, que não nega seu envolvimento com as drogas e a bebida e sua recuperação.

Conviveu com Raul Seixas, Nelsinho Mota e grandes nomes da sua época de sucesso, a quem fez referência como amigos.

A Monique já havia feito sucesso na direção de Ó pai, ó, retorna agora neste filme, cujas letras musicais fazem parte do roteiro.

Amei o programa, a entrevista e os trechos do filme, que pretendo ver em breve, e que traz também como artista o tremendão Erasmo Carlos, o avô da família.

Só posso deixar aqui os meus parabéns ao Pedro, ao Odair e a Monique.

Renè

“A Rene foi embora com o dono dela ontem.Foi dormindo.”

Foi a mensagem que recebi da minha cunhada hoje.

Meu irmão sempre criou cachorros, mas ele sempre ficaram no pátio, ele tinha uma verdadeira paixão por pastor alemão.

Quando ele resolveu adotar a René leu tudo o que podia sobre a criação de um cachorro dentro de casa e ela o acompanhou lado a lado, até a morte dele.

Fez parte da família e esta foto foi feita em abril, quando meus netos e filhos estiveram lá, ela fazia a festa das crianças, mesmo já estando velhinha, a véspera do seus 18 anos.

Acompanhei esses últimos dias, voltei de Pelotas na segunda-feira, queria ao menos poder estar hoje com a Nica, que desde 2006, quando meu irmão se foi, teve a companhia da Renè sempre ao seu lado.

Como ela mesmo disse na sua mensagem, a Renè hoje foi encontrar o meu dindo, seu dono, que era apaixonado por ela.