
Me sinto sufocada, é isso, quando a violência me atingiu, minha amiga-irmã se foi, desapareceu, fiquei completamente impotente, durante um ano virei um zumbi. Continuei fazendo tudo como antes, trabalhando, vivendo, mas no automático, aí resolvi fazer a única coisa que me restou, escrever sobre ela e nunca deixar que ela e a sua trajetória fossem esquecidas.
Todo mês de novembro tento lembrar a todas as pessoas que a violência contra a mulher pode bater a sua porta, sem mais nem menos.
Dia 9 de abril de 2020 fará 5 anos do desaparecimento da Cláudia Hartleben, de dentro de casa, sem nenhuma materialidade que possa levar alguma pessoa a julgamento. A polícia e a promotoria tratam o caso como assassinato, tudo ficou intacto.
A Cláudia era Médica Veterinária, Mestre em Medicina Veterinária e Doutora em Biotecnologia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Professora Adjunta do Centro de Desenvolvimento Tecnológico (CDTEC/UFPEL) onde atuava nos cursos de Graduação em Biotecnologia, Pós-Graduação em Biotecnologia/UFPel e Pós-Graduação em Parasitologia/UFPel. Liderava o grupo de pesquisa em Imunodiagnóstico, onde buscava o desenvolvimento tecnológico em geração de produtos e processos inovadores aplicados ao diagnóstico de enfermidades humanas e dos animais. Presidente da Comissão Interna de Biossegurança (UFPel) e Membro da Comissão de Ética em Experimentação Animal (UFPel). Integrante dos colegiados de curso de Graduação e Pós-Graduação em Biotecnologia. Ministrava aulas nas disciplinas de Biossegurança, Microbiologia e Imunodiagnóstico. Tinha experiência na área de Microbiologia e Imunologia Aplicada, atuando principalmente nos seguintes temas: Produção de Anticorpos Monoclonais e Desenvolvimento de Testes de Diagnóstico. Era reconhecida mundialmente, apresentou trabalhos na Argentina, Espanha, Alemanha.
Todo esse currículo não impediu que ela sofresse violência doméstica e, por fim, fosse vítima de desaparecimento.
Este ano foi criado o Troféu Cláudia Pinho Hartleben, durante a premiação da sétima Feira de Ciências, do Conjunto Agrotécnico Visconde da Graça, do IFSul, em Pelotas, uma memória eternizada, na merecida homenagem a uma professora e pesquisadora excepcionais!
Dia 25 de novembro me divido entre a alegria do aniversário da minha neta e um dia marcado, em mim, como mais uma data sobre a Cláudia e a violência que a atingiu. A injustiça de terem ceifado a sua vida, que tanto prometia ainda, num momento de extrema felicidade dela, porque uma pessoa frustrada não conseguiu suportar a sua alegria e vitoriosa carreira.