Avenida Fernando Osório

Para Cláudia

Mais uma vez em Pelotas, eu ainda tenho medo de encarar a casa ao lado, porque a dor é instantânea.

Existe uma grande diferença no meu olhar ali agora. Antes primavera, agora constante inverno, como as pinturas de Monet, retratando as diversas estações no Jardim de Giverny, mas não há beleza no inverno que se instalou na Fernando Osório.

Dona Zilá abriu a porta para mim, minha filha e meus netos. Logo de cara pude perceber a fragilidade em que se encontra.

Agora usa um andador para se deslocar pela casa e tem sérias limitações de movimentos. A coluna sofre para sustentar seu frágil corpo.

Ao entrar olho para parede onde está o quadro de tulipas pintado pela Cláudia. Pela sala diversas fotografias dela, de muitas épocas.

A conversa é triste, restaram muitos dissabores, além do amargo desaparecimento da minha amiga. 

Quanta diferença! Há 30 anos, quando chegávamos com…

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O teu aniversário

Mais um aniversário de muita saudade, não tem dia em que eu não pense em ti.

Nenhuma palavra pode traduzir a falta que sentimos.

O ciclo não se fechou, sonhos foram interrompidos, com a dolorida saída tua de nossas vidas.

Desejo que estejas bem, dentro da tua crença que, ao desencarnar, serias acolhida pelos teus espíritos de luz. Somente no teu espiritismo conseguimos justificar o teu desaparecimento de nossas vidas.

Por aqui a vida continua, mas ficou o vazio da tua ausência e de tudo o que poderia ter sido.

Feliz aniversário minha amiga, que sejas luz sempre!

 

* Médica Veterinária, Mestre em Medicina Veterinária e Doutora em Biotecnologia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Professora Adjunta do Centro de Desenvolvimento Tecnológico (CDTEC/UFPEL) onde atua nos cursos de Graduação em Biotecnologia, Pós-Graduação em Biotecnologia/UFPel e Pós-Graduação em Parasitologia/UFPel. Lidera o grupo de pesquisa em Imunodiagnóstico, onde busca o desenvolvimento tecnológico, em geração de produtos e processos inovadores aplicados ao diagnóstico de enfermidades humanas e dos animais. Presidente da Comissão Interna de Biossegurança (UFPel) e Membro da Comissão de Ética em Experimentação Animal (UFPel). Integrante dos colegiados de curso de Graduação e Pós-Graduação em Biotecnologia. Ministra aulas nas disciplinas de Biossegurança, Microbiologia e Imunodiagnóstico. Tem experiência na área de Microbiologia e Imunologia Aplicada, atuando principalmente nos seguintes temas: Produção de Anticorpos Monoclonais e Desenvolvimento de Testes de Diagnóstico.
A professora da UFPel, CLÁUDIA PINHO HARTLEBEN, está desaparecida desde o dia 09 de abril de 2015, em Pelotas, no Rio Grande do Sul.

25 de novembro como o Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher

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Me sinto sufocada, é isso, quando a violência me atingiu, minha amiga-irmã se foi, desapareceu,  fiquei completamente impotente, durante um ano virei um zumbi. Continuei fazendo tudo como antes, trabalhando, vivendo, mas no automático, aí resolvi fazer a única coisa que me restou, escrever sobre ela e nunca deixar que ela e a sua trajetória fossem esquecidas.

Todo mês de novembro tento lembrar a todas as pessoas que a violência contra a mulher pode bater a sua porta, sem mais nem menos.

Dia 9 de abril de 2020 fará 5 anos do desaparecimento da Cláudia Hartleben, de dentro de casa, sem nenhuma materialidade que possa levar alguma pessoa a julgamento. A polícia e a promotoria tratam o caso como assassinato, tudo ficou intacto.

A Cláudia era Médica Veterinária, Mestre em Medicina Veterinária e Doutora em Biotecnologia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Professora Adjunta do Centro de Desenvolvimento Tecnológico (CDTEC/UFPEL) onde atuava nos cursos de Graduação em Biotecnologia, Pós-Graduação em Biotecnologia/UFPel e Pós-Graduação em Parasitologia/UFPel. Liderava o grupo de pesquisa em Imunodiagnóstico, onde buscava o desenvolvimento tecnológico em geração de produtos e processos inovadores aplicados ao diagnóstico de enfermidades humanas e dos animais. Presidente da Comissão Interna de Biossegurança (UFPel) e Membro da Comissão de Ética em Experimentação Animal (UFPel). Integrante dos colegiados de curso de Graduação e Pós-Graduação em Biotecnologia. Ministrava aulas nas disciplinas de Biossegurança, Microbiologia e Imunodiagnóstico. Tinha experiência na área de Microbiologia e Imunologia Aplicada, atuando principalmente nos seguintes temas: Produção de Anticorpos Monoclonais e Desenvolvimento de Testes de Diagnóstico. Era reconhecida mundialmente, apresentou trabalhos na Argentina, Espanha, Alemanha.

Todo esse currículo não impediu que ela sofresse violência doméstica e, por fim, fosse vítima de desaparecimento.

Este ano foi criado o Troféu Cláudia Pinho Hartleben, durante a premiação da sétima Feira de Ciências, do Conjunto Agrotécnico Visconde da Graça, do IFSul, em Pelotas, uma memória eternizada,  na merecida homenagem a uma professora e pesquisadora excepcionais!

Dia 25 de novembro me divido entre a alegria do aniversário da minha neta e um dia marcado, em mim, como mais uma data sobre a Cláudia e a violência que a atingiu. A injustiça de terem ceifado a sua vida, que tanto prometia ainda, num momento de extrema felicidade dela, porque uma pessoa frustrada não conseguiu suportar a sua alegria e vitoriosa carreira.

 

 

9 de abril – The Forgiven

Cláudia, abril sempre será, para mim, um mês difícil, mês da morte do meu pai, dia 13 e, agora, o dia 9, que ficou marcado para sempre, porque te tiraram de nós. Para mim é um mês triste…

Assisti The Forgiven, um filme, parte de uma das missões mais difíceis dadas por Nelson Mandela ao arcebispo Desmon Tutu, comandar a comissão de reconciliação entre torturados e torturadores na África do Sul, a TRC, para restaurar a justiça, depois do Apartheid.

Chorei horrores, porque lidar com a nossa incapacidade, inércia e impotência é muito difícil, dar o perdão cristão mais ainda.

Este filme veio numa hora fundamental, ele me lembrou de tudo que o ser humano é capaz de fazer tanto de bem quanto de mal.

O que mais doeu em mim e me fez desabar ao assistir esse filme foi uma mãe pedindo ao arcebispo que, por favor, encontrasse pelo menos um ossinho da sua filha, para que ela pudesse ter um enterro digno, um lugar para chorar.

Acho que é assim que nos sentimos ao chorar por ti, não temos esse lugar, não temos justiça, nunca mais te veremos e um dia a tua história, linda, ficará no esquecimento.

 

Carta da D. Zilá para sua filha Cláudia – 29/10/2017

Claudia minha filha, 29/10/2017, há a cinquenta anos Deus colocava dentro do nosso lar uma estrela e junto com ela a luz, o amor e a felicidade.

No teu álbum de bebê escrevi este pensamento: trabalha estuda e ama, pois do trabalho vem o progresso, do estudo a luz e do amor a felicidade. Conquistastes tudo isso, eras a nossa menina de domingo.

Ficastes no lugar do teu pai , nos davas amparo e segurança, mas um dia a maldade te tirou de dentro da tua casa e te tirou também a vida, aquela que só Deus podia tirá-la.

Continuas conosco filha, em cada árvore, em cada flor.

Que Jesus te abençoe e te guarde e Maria santíssima te cubra com seu sagrado manto, te amamos!

Mãe.