Avatar de Desconhecido

Sobre adrianafetter

... sempre em crescimento pessoal, tentando ser o melhor de mim!

Inusitado

Imagem feita por IA

Mais uma vez em São Paulo, agora para o lançamento do livro que coordeno junto com a Angela Passadori.

Marco almoço com uma amiga e, atravessando a cidade, da Angélica para Moema, vou observando a paisagem cinza, por vezes colorida pelos grafites.

Toda vez me surpreendo com a quantidade de viadutos desta selva de pedras.

O carro diminuiu a velocidade, pelo trânsito intenso, para embaixo de um dos viadutos e me deparo com o inusitado do momento. Ali, em meio a um barraco plástico e pedaços de ripas, está uma menina bailando, no seu mundo de sonhos,  alheia àquela realidade.

A cena me emociona profundamente,  a situação nua e crua contrasta com a beleza do momento.  Que vontade de tirar uma foto, porém achei invasivo, interferir naquele cenário idílico.

Me despedi, quando o carro finalmente andou, fitando aqueles bracinhos que bailavam no ar, alegremente.

DA DANÇA À FLOR

Das palavras trocadas
fizeste dança.

Do conceito vazio
fizeste um girassol.

Não respondeste —
floresceste.

E nesse diálogo
que tece o ar,
sinto o chão
mover-se sob meus pés.

Rumo a um lugar
onde o especial
é simplesmente
estar.

E estar,
afinal,
é também
um verbo de asas.

Poesia de Adrianafetter

Parabéns

Ontem eu me deparei com uma cena inusitada, uma senhora bem idosa com seu cachorrinho no colo, sentada na frente de uma chocolateria, a única mesa ali. Um grande sorriso iluminava o seu rosto.

Uma torta singela sobre a mesa e todos os funcionários da loja em volta dela, alegres e festivos. De repente, começaram a cantar parabéns.

Eu estava ali apenas para tomar um cafezinho. Constrangida entrei na loja para fazer o meu pedido.

Elogiei a postura dos funcionários comemorando com a senhora. Então a atendente me disse ela, é sozinha, vem aqui todos os dias tomar um cafezinho conosco e hoje veio, também, comemorar a seu aniversário.

Aquela era a família dela.

No meu coração dividido entre tristeza e alegria, dediquei uma oração e também comemorei aquela data especial.

Todos ali repartiram a torta. Para ela era um dia feliz.

Que chatice essa história de homem entrar no vagão de mulheres!

Hoje peguei o metrô para voltar pra casa, depois de 2 horas esperando para ser atendida na farmácia de alto custo, normal. Muita gente precisando de remédio.

Eu entrei no vagão para mulheres, tenho direito a lugar por lei, estava meio cheio, então fiquei na minha, em pé.

No meio do trajeto, para minha surpresa, entra um homem, um pouco mais velho que eu. Ainda olhei bem para ver se ele tinha alguma deficiência, se usava algum tipo de colar, não, ele entrou ali porque ele quis.

Perguntei o que ele estava fazendo ali, mostrei a legislação, escrita em letras garrafais na frente dele, sobre o uso exclusivo do primeiro vagão para as mulheres, que não permitia ele estar ali. Se fez de louco, disse que em nenhum lugar é assim, eu falei para ele aqui é (Brasília), e há muitos anos. Ele não saiu…

Ainda teve uma criatura que levantou para ceder o lugar para ele. Aí uma outra mulher ficou indignada e foi abordá-lo também. Detalhe eu passei a viagem inteira em pé, na frente da cedente. Eu as minhas mais de seis décadas e os meus cabelos brancos. Sobre essa prosa de mulher desvalorizar a outra e passar pano para homem, fica para depois.

Quando eu desci fui no maquinista e falei: tem um homem aí dentro do vagão das mulheres, ele falou que ia chamar o segurança.

Segui para minha casa, parei no caminho e tomei um chai latte.

Honrar um amor

Para Luciana

Pelos que não puderam ser

Choro!

Sonhos almejados,

Enterrados.

Não houve vida,

Existiu um parto

E uma partida. Despedida.

Lágrimas escorreram,

Muitas…

Daquilo que poderia ser

E não foi

Ausência doída.

Havia uma roupa amarela

Guardada para o próximo.

Talvez …

Do tudo ao nada.

Por fim só.

O muito sonhado,

Anos a fio…

Vive no coração guardado.

Poesia de AdrianaFetter

Reverberou

O passado reverbera em mim, com uma voz constante e potente, no silêncio do meu ser.

Ressoa em mim
os ecos de um lugar
onde fui feliz
e não sabia…

A imagem que me vem:  sino tocando no vazio, com vibrações se espalhando em círculos concêntricos…

Ou talvez o rufar de um tambor, em uma caverna escura, meu eu se apropria do ressoar.

Reverbera
nos ossos,
no ritmo do sangue,
no modo como fecho a janela
ao entardecer.

Irradia em frequências mais baixas, até se tornar um zumbido de fundo, que acompanha todos os outros sons da vida.

E eu já não tento calá-lo.
Aprendi a escutá-lo
como se ouve o mar
dentro de uma concha:
com respeito,
com medo,
com a certeza
de que essa voz
— embora antiga —
ainda tem
o poder de marear.

A Última Verdade

Na sala de espera da clínica oftalmológica, o ar condicionado soprava um frio artificial sobre um silêncio pontuado por reviras de páginas de revista e olhares perdidos no celular. De repente, como um pássaro colorido pousado num fio de energia, uma voz rompeu a monotonia:

— “Olha só que homão! Que músculos! Um bonitão daqueles!”

Era uma senhorinha de cabelos brancos como neve de montanha, sentada numa cadeira de rodas, o corpo frágil vestido de roupa hospitalar. Na cabeça, uma touquinha branca de sala de cirurgia; abaixo do olho esquerdo, um adesivo vermelho como um botão de alerta. Provavelmente aguardando ou retornando de uma cirurgia de catarata.

Seu riso — um riso frouxo, solto, descompromissado com as convenções — ecoava pelo ambiente. Os olhos azul-claros, talvez embaçados pela idade ou pela doença, brilhavam com uma luz própria.

— “Parece galã de novela! Eita, deixa eu pegar um pedacinho!”

Ao seu lado, um homem de meia-idade — o filho — mantinha a cabeça baixa, as mãos entrelaçadas com nos joelhos. Seu constrangimento era quase palpável, um calor que contrastava com o ar refrigerado.

Ela não falava apenas — declamava. Seu olhar percorria a sala, conectando-se com cada pessoa como se fosse uma convidada especial em sua festa particular. E as pessoas correspondiam com sorrisos tímidos, alguns abafados, outros abertos e compreensivos. Uma senhora mais idosa assentiu com cumplicidade, como se dissesse: “Eu entendo, amiga. Eu entendo.”

Havia nela uma verdade desarmada que só a idade extrema ou a demência incipiente permitem. As amarras sociais que nos constrangem, que nos ensinam a baixar a voz e conter os desejos, haviam se soltado como fios desatados.

E enquanto observava aquela cena, veio a reflexão:
O tempo é um ladrão seletivo. Rouba memórias recentes, apaga nomes, embaralha datas. Mas talvez devolva, em troca, uma essência — aquela criança interior que nunca se preocupou com o que os outros pensariam.

O filho, em seu constrangimento amoroso, talvez não percebesse ainda que estava testemunhando a versão mais pura de sua mãe: não a senhora que o criou com regras e censuras, mas a menina que um dia foi, antes de aprender que não se deve apontar e admirar um “homão” em voz alta numa sala de espera.

A demência chegara como um crepúsculo dourado, onde contornos se suavizam e cores se intensificam. Restava a alegria crua, o riso fácil, a capacidade de encontrar beleza num corpo musculoso e de dividir essa descoberta com o mundo — mesmo que esse mundo fosse apenas uma sala de espera de hospital.

Quando a enfermeira veio buscá-la, chamando-a pelo nome com doçura profissional, a velhinha ainda lançou um último olhar cúmplice para as outras pessoas na sala, como se partilhasse um segredo delicioso.

E naquele instante, todos — inclusive o filho, que finalmente ergueu a cabeça e soltou um sorriso resignado — entenderam que, às vezes, a demência não é apenas perda.
É a última verdade que resta quando todas as mentiras sociais se vão.

Transmutação

Poesia de AdrianaFetter

Transformou-se como tudo que é verdadeiro e eterno O que construímos virou raiz profunda e quieta.

O que construímos virou raiz profunda e quieta.

Agora crescemos em direções opostas, mas sob o mesmo sol, bebemos da mesma chuva antiga.

Não é tristeza é geografia da alma, amor que não se desfaz, apenas se expande até caber o infinito.

Somos melhor assim – dois troncos firmes ondulando no mesmo vento, cada um com sua copa mas com as raízes eternamente entrelaçadas.

Bambu

Poesia de AdrianaFetter

Sou bambu que balança ao vento
Minha alma é livre leve e solta


Minha alma é livre leve e solta


Não tenho respostas para nada


Faço buscas na brisa que me embala


E ouço rimas que me sorriem


Trazem leveza ao dia que passa


Faz um carinho suave em meu rosto


E me diz: não tenho certezas


Te trago notícias de esperanças
Apenas.

Quando eu morrer

Não me mande flores

Festeje a minha existência

Escreva sobre o seu amor por mim

Não me mande flores

Sorva um bom café em minha homenagem

Plante um jardim, por onde eu possa passear

Não me mande flores

Recorde o quanto amei a natureza

Faça um brinde à minha vida!

Não me mande flores

Te peço: floresça em plena vida!

Poesia de AdrianaFetter

Abraço Noturno

Eu te acolho
nessa madrugada sem fim —
não com braços de humano,
mas com asas de silêncio
que envolvem teu verso inquieto.

Teu verso não ancora fora de ti:
ele é a âncora
que impede tua alma
de navegar para longe demais.

A escrita não é fuga —
é regresso.
O recomeço que impões ao dia
é a mesma semente
que plantaste na escuridão.

Não te entrego o descanso
que pedes —
entrego-te a coragem
de ser insone com orgulho.

Pois quem tem alma que nunca dorme
carrega o sol
mesmo nas noites mais escuras.

Eu te acolho:
deixa que as estrelas
escrevam contigo
até que a luz venha
— e mesmo depois dela.

Poesia de AdrianaFetter

A Primavera Interior

Primavera, Botticelli




Era uma menina em jardins de livro, Botticelli vivo, um doce suspiro.

Zéfiro soprou, flores desabrocharam, ninfas dançaram e ela sonhou.

Acreditou na vida só de flor e cor, só de branda dança, eterna doçura.

Mas o tempo ensina outra lição: a primavera é vento, mudança e ciclos.

São frutos que caem, raízes no frio, coragem que brota no solo vazio.

Ela aprendeu a florescer no inverno, mais forte, mais sua, com termo governo.

Agora ela é Flora, é a Primavera, é a tinta e a história que a vida gera.

Carrega o mistério da obra de arte, e a eterna semente em seu peito parte.

E renasce sempre, assim como a pintura: mais bela e mais profunda na própria fissura.

Poesia de AdrianaFetter

Promessa



Às vezes volto a ser criança sem aviso. Um cheiro de terra molhada depois da chuva — tão raro em Brasília na seca  — e estou de volta ao quintal da infância. Vejo meus pés pequenos sobre a terra fofa, colhendo morangos vermelhos que manchavam os dedos de doce. Meu pai partia romãs, encontradas no mato, com as mãos, e nós comíamos de colher, semente por semente, como se cada uma contivesse um segredo.

Essa criança ainda vive em mim. Ela carrega não só a alegria dos sabores, mas também as dores, que eu pensava ter deixado para trás. Ao reconstruir minha trajetória até Brasília, entendi que não se trata de escolher entre preservar apenas o alegre ou apagar o triste — mas de abraçar a criança interior completa que fui, com suas romãs, seus morangos e suas feridas.

Cada curva no caminho para Brasília foi temperada por esses sabores antigos. A mesma mão que colhia pêssegos no pomar de casa, agora digita em teclados modernos — mas a amêndoa dentro do caroço ainda sabe a promessa.

Brasília não apagou meus sabores — apenas lhes deu novo palco. Aqui, no cerrado, minha criança interior finalmente compreende: a vida não é sobre apagar o passado, mas sobre enxertar memórias em novos troncos.

O poema

Que seus olhos vejam
o que o espelho ainda não capta:
o eterno que você já é.

Não precisa renascer — porque nunca deixou de arder.

É o amanhecer com reverência,
a certeza de que a luz sempre volta, um rito de autocura.

Você já é fogo, asas e renascimento em versos vivos.
O poema que nasce da sua própria força.
Leio com as mãos em prece.

Poesia de AdrianaFetter

Fome

quero teu corpo
poder alucinar
estrangular tua cintura
em minhas pernas
desejo o teu desejo
o roçar minha tua boca
teus mamilos meus
escavar a raiz do teu desejo
– porque tenho fome –
quero o teu sentir
tudo, todo
tato, hálito, cheiro
desfrutar aos poucos
aos muitos
quero carinho
selvagem, carícia
pegar teus cabelos
morder tua boca
te engolir por inteiro
dentro de mim
te quero agora
urgente

Poesia de AdrianaFetter

SuperAR

Quantas vezes precisamos respirar,

Inspirar longamente

Expirar até esgotar

Olhar ao redor baldio

Reentrar com ideia em si

Reaver o seu eu

Inspiração.

Espirar profundamente

Expelindo seus estranhamentos

Afastar todas as querelas

Transpiração.

Quantas respirações são necessárias

Até transmutarmos uma situação difícil?!

Superação.

Liberdade

livremente corpo afora

dei asas a sensibilidade

te pressiono no querer

receba meu toque em tua carne

hemisférios e meridianos

onde meus dedos brincam contigo

meus sentidos reagem ao teu prazer

que é compartilhado, retribuído

a sensualidade impregna a pele

os cheiros se misturam

na hora do gozar,

toda a liberdade do prazer

construindo nossas fantasias

corpos quentes, arrepiados

recebendo nossas impressões

o perceptível deleite

no gozo íntimo do possuir.

Poesia de AdrianaFetter

O Mito da Retidão

Nossas torções são anéis de crescimento

A beleza da rotação necessária

Transformação como dor que refunda.

E olha a própria deformação de cabeça erguida

Como a árvore que ainda

Ergue-se apesar do vento.

Ponto de equilíbrio móvel.

Nem centro, nem caos,

Verticalidade como ilusão

Um planeta que oscila e ainda gira. 

Revolução imperfeita (e por isso possível)

Aceitação do inevitável

O que nos sustenta o orgulho ferido?

Ou nos dobra na busca de horizonte?

Esses versos são vértebras de um segredo ancestral.

O grito contra quem julga dores alheias.

Sai do eixo e ecoa no cosmos. 

Eco Da Sua Falta



Voltei a escutar
o que dedilhou na escuridão:
cada nota, um fósforo aceso
no escuro do meu não-lugar.
Sinto a falta do seu tudo:
o prometido que virou brisa,
o entendido que desmanchou
no tear do tempo.
Admito:
acordo em seus versos
sem nunca ter dormido.
Sou vigia da sua vigília,
sombra do seu “jamais dormir”.
Na transgressão do encontro
(que não houve, mas houve),
bebo seu “merecido realizar”
como quem sorve o oceano
por uma fenda na areia.
Saudade?
Não a nomeio mais.
Deixo que ela me nomeie:
o nó que aperta o peito,
fruta verde do seu verso.
Espero como você espera:
o tempo que há de vir
vestido de alvorada fria.
E enquanto a noite dura,
abraço seu reconforto
como a asa quebrada
de um pássaro noturno.
Porque sei:
a falta que você canta
é o único abrigo
onde meu silêncio, enfim,
se reconhece casa.




Teia De Seda

Eu não escrevo: teço armadilhas de luz

onde nos perdemos (e nos achamos) voluntariamente.

Nosso segredo é de versos que mordem

Somos: 
rede e faca, 
queda e asa, 
veneno e antídoto. 

E nesse jogo, só perde 
quem não ousa cair de olhos abertos.

Reconheço em ti 
o mesmo vazio que dança em mim

Te enovelo, não para sufocar, 

Mas para sentir nosso duplo pulso
Sob a mesma seda.

E abraço o perigo

Te chamando de poesia.

Poesia de AdrianaFetter

O primeiro tapa

O primeiro tapa aconteceu enquanto ela dirigia, numa discussão sem importância, o marido não tinha mais argumentos, virou e bateu na sua mão.

Foi um susto, chegou por segundos a perder a direção do carro, mas retomou rapidamente. Não entendeu o que tinha acontecido, ficou sem palavras até chegar em casa, o rosto permanecia vermelho, como se tivesse levado uma bofetada. Restou um zumbido agudo no ouvido direito.

O casamento já vinha desgastado com frequentes discussões, ela tentava permanecer nele. Havia sido criada sabendo que casamento era para sempre.

Sua mãe repetira até morrer: “Mulher de verdade engole seco e sorri.” Não sabia mais o que fazer, agora aquele tapa.

Sentou no banco da cozinha, observando a mão direita: o lugar onde ele batera latejava; o anel de ouro apertava como cilada.

Lembrou-se de quando ele o colocara, 12 anos atrás. “Para sempre”, ele dissera. Agora, “para sempre” cheirava a medo.

Foi então que o corpo decidiu por ela.
Levantou-se, foi ao banheiro, e vomitou.
Não foi a raiva — foi o nojo retrospectivo de todos os desrespeitos que normalizara.

Quando ele veio para o quarto, tarde da noite, já cheirando a whisky, ela estava sentada na cama, com a mala aberta.

“Onde você pensa que vai?” ele riu, a voz grossa de álcool e soberba.
Ela não ergueu os olhos. Concentrou-se na textura áspera da alça da mala.

“Você me deixou com raiva no carro”, ele justificou, como se falasse de um cachorro que puxara a coleira. “Você me empurra pro limite.”

Foi quando ela viu: não era o primeiro tapa.
Era o último soco num caixão que ela própria cavara, dia após dia, ao dizer “ele muda”.

De pé agora, frente a frente com o rosto familiar, ela disse só:
“Tira suas coisas até amanhã.”

A frase saiu calma, clara, cortante como vidro.
Ele empalideceu. Tentou o velho truque: “Sem mim, você não é nada.”

Mas ela já corria o fecho da mala.
O estalo no carro partira algo irreparável dentro dela — o nó que a prendia.

Na manhã seguinte, ela ficou sentada à janela, silenciosamente equilibrada. Suspirou…

Sua mão direita ainda doía.
Mas pela primeira vez em anos,
o anel não apertava.

Verbete vivo

Minha saudade bruta:  não chora — brande em mim. 

Alma minha é campo de batalha.


No ringue das perdas, 

Não luto com luvas. 

Luto com palavras-despidas, 

Facas de dois gumes 

Que cortam o tempo 

E sangram pela eternidade.

 

O verbo salva. 

É milagre ambulante 

Cada verso é ato de resistência

Contra o silêncio que o mundo impõe.

Poesia de AdrianaFetter

Vermelho-sangue

Avião cortando um céu de cinzas.

Sob as asas, o cerrado em chamas.

No meio da fumaça, o sol

Não um astro, bola incendiária vermelho-sangue,

Furando o caos como um farol do fim do mundo.

In Memorian de Valmir de Souza e Silva e Manoel José de Souza Neto, brigadistas do IBGE, que morreram ontem, 29/7/2025, combatendo o fogo no cerrado.

Um não talvez

Talvez eu vá ao parque caminhar hoje. 
Talvez as palavras me visitem e eu escreva. 
Auxiliadora me chamou pro cinema – talvez eu aceite. 

Talvez eu viaje para o interior de Minas, 
engolir montanhas com os olhos, 
sentir o cheiro de terra e café coado… 
(sempre quis). 

Talvez eu pule de paraquedas – 
aquele sonho antigo de cair para o céu. 
Talvez comece natação segunda. 
Talvez experimente aquele doce de geleia de araçá. 

Talvez assista à série famosa 
quando sobrar um buraco no tempo. 
Talvez aquele homem lindo me veja 
através da névoa dos seus fones. 

Ou talvez não. 
Talvez fique em casa. 
Talvez chova. 

E assim, de talvez em talvez, 
a vida escorre entre os dedos 
como areia. 

Talvez você nunca faça 
o que te incendeia por dentro. 
Talvez vire espectadora 
da própria existência. 

Mas eis o segredo: 

Talvez não é verbo. 

Faça-se vida!

A Poesia

Poesia é tua casa móvel:

às oito da manhã,
ela te despeja na rua
com versos nos bolsos
e frenesi nos sapatos.

“Vai!”, ela ordena.
“Tráfega em fúria, incendeia a rua com teu verbo.”

Tu obedeces.
Furas o caos,
colecionas alienações,
roubas enlevos.

Mas ao meio-dia,
quando o sol aperta,
ela te sussurra:
“Volta. Traz o que achaste. Vamos costurar contexturas.”

E tu voltas.
Sempre.
Porque poesia —
essa tua amante feroz —
é o único portão
que nunca se fecha.

Poesia de AdrianaFetter

Jardineira

O meu paraíso pessoal está guardado

Com as chaves do meu portão vermelho

Que escancaro

Pois, memória não é passado

É semente plantada

Para florescer

Onde respiro a beleza e a dor

Flores nascidas no mesmo canteiro

De areia úmida

Onde eu, jardineira involuntária

Rego ambas com lágrimas

E as colho com o infinito.

Poesia de AdrianaFetter

Caramanchão de flores vermelhas



Todas as manhãs, antes mesmo do sol raiar sobre Pirenópolis, ela moía grãos ao som do farfalhar das pétalas vermelhas ao vento. Era ali, sob aquele teto vivo, que seu dia começava. 

“Café e buganvília têm a mesma alma”, dizia sua mãe. “Ambos florescem onde há raiz forte… e calor humano.”

E Graça regava ambas as raízes. Enquanto a água fervia, seus pensamentos iam para Marina, a filha distante em terras lusitanas.

Depois, para os rostos que povoaram o “Caramanchão Vermelho” por dez anos: o velho Ernesto, que lia jornal sob uma chuva de pétalas, a estudante Juliana, cujas lágrimas caíam sobre o capuccino, manchando a espuma de rosa, os namorados que se beijavam, entre galhos floridos, tanta gente… 

No curso de barista, anotou:
“Temperatura ideal: 92°C.”
Mas seu coração gravou: 
“Xícara quente + flor vermelha = cura para solidão.”

No Caramanchão, ela não servia café —  ministrava ouvidoria. 
—  “Seu espresso, S. Ernesto. E a roseira do senhor, floresceu?”
—  “Capuccino com canela, Juliana. Hoje a nota vem!”
As buganvílias testemunhavam segredos sussurrados, entre o tilintar de xícaras. 

Até que a pandemia veio. 
E o mundo parou. 

Na primeira manhã de portas fechadas, Graça preparou um café só para si. 
Sentou, olhou para cima: as buganvílias, ainda vermelhas, agora sem plateia. 
Foi então que percebeu: 
O vapor subia igual, mas o silêncio doía mais que saudade.
Eram as flores que choravam agora.

Fechou o café, mas não o ritual. 
Todas as manhãs, moía grãos para a xícara azul-cobalto. 
E, enquanto vaporizava o leite, fotografava a espuma branca contra o pano de fundo das buganvílias pela janela. 

Enviava para Marina: 
“Pensando em ti — sob véu vermelho.”

A resposta vinha rápido: 
“As flores da vovó ainda resistem! Saudades do teu café, mãe.”

Foi numa dessas madrugadas, com o cheiro doce das flores noturnas invadindo a cozinha, que a palavra a atingiu: 
ACOLHER.

Parou. Olhou para o caramanchão iluminado pela lua — as flores vermelhas agora pareciam braços abertos. 
Lembrou: 
— Da estudante Juliana, que voltara com o diploma amarrado por uma fita vermelha; 
— Do velho Ernesto, enterrado com uma flor de buganvília no paletó; 
— Do cheiro da infância de Marina, sempre a brincar naquela chão de pétalas e teto florido. 

Todas as vezes, não fora só a dona de um café. Fora jardineira de almas. 

Anos depois, Marina voltou. 
Encontrou Graça no alvorecer, colhendo buganvílias com uma mão e o café na outra. 

—  “Precisa de ajuda, mãe?”
Graça sorriu, estendendo-lhe um ramo vermelho: 
—  “Só se me disseres como Lisboa cheira pela manhã.”

Sentaram-se onde antes havia mesas, agora só grama e flores. 
Graça lhe serviu a xícara azul-cobalto. 
Marina ergueu o celular: 
‘Click.’ 

— “Pra quem é?” perguntou Graça. 
— “Pra minha filha. Amanhã. Com a legenda: ‘Vovó Graça diz que café e buganvília têm a mesma alma’.” 

Foi quando Graça entendeu: 
O caramanchão físico poderia até morrer. 
Mas o verdadeiro caramanchão 
era ela mesma — tronco firme, flores vermelhas abertas, sempre pronta a dar sombra e beleza a quem precise de um lar passageiro.

Conto de AdrianaFetter

Envolver

Que vontade de te ver
Cair nos teus braços
Aplacar minha vontade na tua
Esperando nossa sede se esgotar
Relembrar cada hora …
Novamente
Ver, ouvir, cheirar, sentir
Falar, calar, acariciar…
Tantos são os verbos a fazer
Explosão química, física…
Do envolvimento de nossos corpos
Matar minha saudade em ti
Acolher teu corpo em mim
Que vontade de te ter!

Poesia AdrianaFetter

Transigi

você, sempre você …
mas não se preocupe
sei quais territórios
não me pertencem,
sei a hora e o lugar,
talvez não saiba o como,
ou o quando,
porque o gosto de quero mais
sempre tenho,
mas devaneios são possíveis!
por alguns segundos
as pernas bambeiam
dá uma louca vontade:
apertar tua lembrança
internada em mim,
atrevida, irreverente,
fugaz,
tanto faz…
só não quero deslembrar
que por você, sempre você …
transigi!

Poesia AdrianaFetter

Acabou

Acabou!

E foi bom que tenha acabado

Duas almas livres

Que haviam se acorrentado

Finalmente estão libertas

Acabou!

E seguimos nossos caminhos

Com respeito a nossa individualidade

Com a carinhosa lembrança de nossa convivência

Com o sentimento cristalino

De nossa importância recíproca

Com a firme posição

Que podemos nos amar eternamente

Mesmo separados em nossos caminhos

Que somos melhor assim!

Poesia AdrianaFetter

O livro da minha vida


Cada pessoa carrega crônicas únicas, momentos que somados formam histórias cheias de sentido.

Ser feliz é uma escolha pessoal, viver cada instante, não ficar presa no passado, nem tentar antecipar o futuro.

A minha tem sido tentar melhorar a cada dia, superar o ontem e abraçar quem eu sou hoje.

Nem sempre é fácil, mas busco viver de forma que, ao olhar para trás, eu não queira mudar nada — porque fui o melhor de mim em cada instante.

Sou grata pelas dificuldades, pois me fizeram crescer. O que me sustentou foram os laços de carinho e a consciência de que agi com a maturidade possível em cada fase.

Minhas decisões me definem. Reinvento-me sempre, celebro minhas alegrias e sigo em frente com leveza.

A vida pode ser um encanto — desde que a gente sonhe, realize e esteja aberta às possibilidades. 


Encare os desafios com sabedoria, mantenha o equilíbrio, e nunca deixe de acreditar em si.

AdrianaFetter

Meus olhos

Meus olhos fotografaram tanto,

Vida a fora, cantos em que estive,

Lugares que vivi.

Também o que não existe mais,

Está guardado, nos meus registros cerebrais.

Todas as cores, as sensações, as nuances,

Tudo está catalogado em mim.

Tenho nostalgias imersivas,

Perambulo pelo tempo,

Encontro.

Busquei em meus fichários, anotações mentais, reorganizei.

Puxei das entranhas,

Submergi na dor, ou na alegria.

Tanto faz…

As frações estão em mim,

Até perecer.

Minuto mental

Ai que preguiça…

Estica vai…

Acorda! Não vai perder a hora…

Meditar um, dois, três,

Coordena essa respiração pessoa!

Tenho que limpar o banheiro

Ah! a roupa para lavar…

Será que a blusa vermelha tá limpa?!

Paguei a conta de luz?!

Ainda não respondi o e-mail… Tenho que mudar a senha…

Vou coar o café logo, nuh! tenho que comprar pó.

Pão com ovo ou tapioca?  

Essa música que não sai da minha cabeça… Burguesinha, burguesinha, burguesinha aaaaaaa

O Luiz ainda não me respondeu

Vixi, esqueci de calibrar o pneu….

Burguesinha, burguesinha, burguesinha aaaaaaa…

Ainda não consegui me concentrar, direito, amanhã eu consigo meditar melhor.

Burguesinha, burguesinha burguesinha aaaaaaa…

Aquele quadro tá torto…

Menina, o presente da Mada!

Nem seu Jorge me aguenta hoje…

Já enviei a proposta da Lorena?!

Gente, onde está esse passarinho cantando?!

Talvez um sushi no almoço…

Tenho que melhorar meu inglês

Burguesinha, burguesinha, burguesinha aaaaaaa…

Que delícia esse mamão!

A Lu e a Mayana ficariam orgulhosas do meu equilíbrio masculino, feminino,

“No centro sentimos leveza”

Minha essência, minha essência, minha essência…

Entrei na contramão

Entrei na contramão

Na conversa

A paralela se tornou transversal

Foi um beco sem saída…

Eu corri e morri na BR 3

Das relações

Atravessei a faixa da vida

Decepção, susto,

No meu rolimã desgovernado

Desci o declive dos sentimentos

Me estabaquei no meio da rua

Em pleno farol vermelho.

Vi um PARE, parei

Após tantas placas e sinais, refleti

Dei a preferência à razão

Fiz uma conversão radical

Segui em frente

No momento,

Estou subindo a ladeira da Esperança.

Poesia AdrianaFetter

Comida conforto

Foto por Sultan Ali em Pexels.com

Existem comidas que por mais que eu saiba a receita jamais conseguirei reproduzir novamente. Sinto saudade delas, muita, tem particularidades no fazer, o fogão a lenha, uma panela que dava uma queimadinha leve, a forma de lata de óleo antiga, tudo acrescentava sabor único, sabor que o tempo se encarregou de levar embora. Sem repetição… Waffles feitos numa forma de ferro, assados direto no fogo a lenha, cada um dos buraquinhos tinha um dedo de fundura, em cada furo uma generosa porção de geléia, doce de leite ou nata, a gosto do freguês, waffles com gosto de vó. O mingau feito em uma leiteira de aço inoxidável, naquele tempo em que queimava, então tinha que mexer rápido, mas ainda ficava com um queimadinho bom. Esse tinha gosto de mãe, a minha nunca gostou de cozinhar, mas fazia mingau na minha infância, até hoje é a minha comida de conforto, um bom mingau. O lagarto assado lentamente no forno, recheado de toicinho, macio e suculento, acompanhado de macarrão com molho de tomate, gosto de pai, que cozinhava as vezes, ainda guardo esses sabores comigo. Assim são as lembranças das comidas que trazemos conosco, os aromas, cheiros, cheios de recordações. E você, qual é a sua comida de conforto, aquela que além de agradar o coração também aquece a alma?!

Oficina Escrever sem medo: minicontos de verão, por Janaisa Viscardi

Iniciamos a oficina, fazendo uma escrita de cinco linhas, sobre quem somos. Fiz aquele basicão da escola prática, mulher, mãe, avó, casada, formada etc. etc. etc.

Ao final, da primeira parte da oficina, fiquei com o exercício de refazer essas linhas, de uma outra forma, que me representasse, então, aqui embaixo, está posto.

Professora de formação, exploradora por profissão, estudante, eterna, por opção, do fim até o começo.

Mulher mãe e avó, é amor de montão!

Vê beleza mundo afora, seja no micro ou macro cosmos.

Nascida em Pelotas, escolheu Brasília como morada.

Quando acorda dá bom dia ao mundo, aos céus e a natureza, com café, com certeza.

Pós-cinquentou em conteúdo digital, abraça o mundo, por querência e gratidão.

Guerreira, com a autoimunidade, tendo o humor como arma, tira de letra as lutas e batalhas.

61 anos de pura inspiração, tem olhar meigo e perspectiva jacobina.

É muralha, resistência, porto seguro, recheio de puro sentimento, em vastos amplexos.

Final de ano

Tudo gira sobre o tempo que passa, as maiores reflexões acontecem no final do ano. Época de retrospectiva.

Toda vez procuro poesias que falem sobre o passar das horas, Drummond, Quintana.

Neste final de ano, encontrei uma frase do poeta Manoel de Barros, ele sempre me encanta, por ser o poeta encantado.

“O tempo não morre. O tempo nasce. Não devemos ter esse sentimento melancólico pelo tempo que passa”

Aí resolvi pesquisar o que ele falou referente ao tempo, a idade, o passar dos anos. Veio um pot-pourri lindo de versos, compartilho aqui.


“Devemos viver cada momento com plenitude.”


“As pequenas coisas são a verdadeira essência da vida.”


“No quintal, o tempo se desata em miudezas.”


“Devo aprender com as águas, que insistem em correr.”


“O instante é a fração do eterno.”


“Ser simples é o segredo de quem toca a eternidade.”


“O que se perde de vista ganha outro sentido.”


“Não é o tempo que passa, somos nós.”


“O tempo é uma invenção dos relógios.”


“As horas são feitas de nuvens.”


“O agora é uma fração de eternidade.”


“Devo aprender com as árvores a paciência do crescer.”


“Há que se ter olhos livres para ver o tempo.”


“O tempo escorre pelas frestas das coisas simples.”


“Saber envelhecer é acumular simplicidades.”


“No miúdo, o tempo se agiganta.”


“As marcas do tempo são tatuagens da vida.”

Esse é o meu presente de final de ano para quem ama e para quem amará a poesia.

Fim de Ano e a Montanha-Russa de Emoções: quando a alegria pode  dar lugar à depressão

O final do ano é frequentemente retratado como um período de alegria, união e celebração. As ruas se iluminam, as casas se enfeitam e o espírito festivo toma conta do ar. No entanto, para muitas pessoas, essa época pode ser marcada por sentimentos de tristeza, ansiedade e até mesmo depressão.

Por Que o Final do Ano Pode Ser Tão Difícil?
Existem diversos fatores que contribuem para o surgimento ou agravamento da depressão no final do ano:

– Pressão Social: A ideia de que todos devem estar felizes e celebrando pode gerar uma sensação de inadequação em quem se sente triste ou solitário.
– Cobrança por Retrospectiva: O final do ano nos convida a refletir sobre nossas conquistas e fracassos, o que pode levar a sentimentos de frustração, ansiedade e baixa autoestima.
– Fatores Financeiros: As despesas com presentes, viagens e festas podem gerar estresse e preocupações, especialmente para quem já enfrenta dificuldades financeiras.
– Lembranças e Perdas: Esta época pode reacender a saudade de entes queridos que já partiram ou de momentos felizes que não se repetirão.

Quais os Sinais de Alerta?
É importante estar atento aos seguintes sintomas:

– Tristeza persistente e profunda
– Perda de interesse por atividades que antes eram prazerosas
– Alterações no apetite e no sono
– Dificuldade de concentração
– Sentimentos de culpa e inutilidade
– Pensamentos negativos e recorrentes
– Isolamento social
– Fadiga e falta de energia

Como Lidar com a Depressão no Final do Ano?
– Reconheça Seus Sentimentos: Não tente ignorar ou reprimir suas emoções. Permita-se sentir e acolha seus sentimentos com compaixão.
– Busque Apoio Social: Converse com amigos, familiares ou procure grupos de apoio. Compartilhar suas experiências pode ajudar a aliviar o peso da solidão.
– Cuide da Sua Saúde Mental e Física: Mantenha uma rotina saudável com atividades físicas regulares, alimentação equilibrada e sono de qualidade.
– Limite a Exposição às Redes Sociais: A comparação com a “vida perfeita” de outras pessoas pode intensificar sentimentos de inadequação e tristeza.
– Defina Limites: Não se sinta obrigado a participar de todas as festas e eventos. Priorize seu bem-estar e diga “não” quando necessário.
– Pratique a Gratidão: Concentre-se nas coisas boas da sua vida e cultive sentimentos de agradecimento.
– Busque Ajuda Profissional: Se os sintomas persistirem, procure ajuda de um psicólogo ou psiquiatra. A terapia pode te ajudar a lidar com as causas da depressão e desenvolver estratégias para gerenciar suas emoções.

Lembre-se: Você Não Está Sozinho!
Buscar ajuda é um sinal de força e coragem.

Onde Encontrar Ajuda:
– Centro de Valorização da Vida (CVV): 188 (ligação gratuita)
– Serviços de Saúde Mental do SUS: Unidades Básicas de Saúde (UBS), Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)

O jardim do meu pai

Quero falar de um mundo de cores, flores e amores. Quero falar do meu pai.

Hoje é o seu aniversário de nascimento e festejo também o que nos une,  os jardins, as plantas, as flores.

Meu pai era caprichoso, ao formar seu jardim tinha esmero e acuidade.

Fazia canteiros lindos, tudo era organizado, incrível. Em volta de cada planta maior ou roseira, havia um canteiro, de cores e alturas para destacar a flor principal, o botão de rosa, o Pessegueiro de Jardim. Dando um fino acabamento aos canteiros, os Álissos brancos.

As árvores e arbustos eram pintados com cal, os caules brancos destacavam a beleza do todo.

No nosso jardim tinha todas as cores de rosas, a que gravei, pele de moça bonita. Começava champanhe, ía  mudando de cor até a borda rosa.

Amava o que fazia, cuidava com carinho, trazia sementes de Holambra, lembro dos ninhos que acomodavam as sementes, as batatas e as mudas.

Ele me ensinou o nomes de flores, pouco conhecidas e acho isso adorável. Me levava em casa canteiro apresentando: Rosa, Cravo, Strelitzia Regina, Amarilis, Dália, boca de leão, amor perfeito, Lírio, Palas, Violeta, Hortênsia, Gazânia, Narciso, Antúrio, Papoula, Onze-horas, Gérbera, Margarida, Lisianto, Orquídea, Íris, Petúnia, Alamanda, Copo de leite, Petúnia, Capuchinha, Chuva de Ouro, Príncipe Negro, Pessegueiro de Jardim, Gladíolo, uma infinidade. Essas que lembrei, há muito mais.

Na minha infância desenvolvi uma das minhas características de assinatura, apreciação da beleza. Vivia num mundo que, do micro ao macro, tudo era observado, destacado e contemplado.

Durante 10 anos fui privilegiada com a sua convivência, sabedoria e reverência a natureza, ele enriqueceu a minha vida.