Inusitado

Imagem feita por IA

Mais uma vez em São Paulo, agora para o lançamento do livro que coordeno junto com a Angela Passadori.

Marco almoço com uma amiga e, atravessando a cidade, da Angélica para Moema, vou observando a paisagem cinza, por vezes colorida pelos grafites.

Toda vez me surpreendo com a quantidade de viadutos desta selva de pedras.

O carro diminuiu a velocidade, pelo trânsito intenso, para embaixo de um dos viadutos e me deparo com o inusitado do momento. Ali, em meio a um barraco plástico e pedaços de ripas, está uma menina bailando, no seu mundo de sonhos,  alheia àquela realidade.

A cena me emociona profundamente,  a situação nua e crua contrasta com a beleza do momento.  Que vontade de tirar uma foto, porém achei invasivo, interferir naquele cenário idílico.

Me despedi, quando o carro finalmente andou, fitando aqueles bracinhos que bailavam no ar, alegremente.

Parabéns

Ontem eu me deparei com uma cena inusitada, uma senhora bem idosa com seu cachorrinho no colo, sentada na frente de uma chocolateria, a única mesa ali. Um grande sorriso iluminava o seu rosto.

Uma torta singela sobre a mesa e todos os funcionários da loja em volta dela, alegres e festivos. De repente, começaram a cantar parabéns.

Eu estava ali apenas para tomar um cafezinho. Constrangida entrei na loja para fazer o meu pedido.

Elogiei a postura dos funcionários comemorando com a senhora. Então a atendente me disse ela, é sozinha, vem aqui todos os dias tomar um cafezinho conosco e hoje veio, também, comemorar a seu aniversário.

Aquela era a família dela.

No meu coração dividido entre tristeza e alegria, dediquei uma oração e também comemorei aquela data especial.

Todos ali repartiram a torta. Para ela era um dia feliz.

Que chatice essa história de homem entrar no vagão de mulheres!

Hoje peguei o metrô para voltar pra casa, depois de 2 horas esperando para ser atendida na farmácia de alto custo, normal. Muita gente precisando de remédio.

Eu entrei no vagão para mulheres, tenho direito a lugar por lei, estava meio cheio, então fiquei na minha, em pé.

No meio do trajeto, para minha surpresa, entra um homem, um pouco mais velho que eu. Ainda olhei bem para ver se ele tinha alguma deficiência, se usava algum tipo de colar, não, ele entrou ali porque ele quis.

Perguntei o que ele estava fazendo ali, mostrei a legislação, escrita em letras garrafais na frente dele, sobre o uso exclusivo do primeiro vagão para as mulheres, que não permitia ele estar ali. Se fez de louco, disse que em nenhum lugar é assim, eu falei para ele aqui é (Brasília), e há muitos anos. Ele não saiu…

Ainda teve uma criatura que levantou para ceder o lugar para ele. Aí uma outra mulher ficou indignada e foi abordá-lo também. Detalhe eu passei a viagem inteira em pé, na frente da cedente. Eu as minhas mais de seis décadas e os meus cabelos brancos. Sobre essa prosa de mulher desvalorizar a outra e passar pano para homem, fica para depois.

Quando eu desci fui no maquinista e falei: tem um homem aí dentro do vagão das mulheres, ele falou que ia chamar o segurança.

Segui para minha casa, parei no caminho e tomei um chai latte.

Honrar um amor

Para Luciana

Pelos que não puderam ser

Choro!

Sonhos almejados,

Enterrados.

Não houve vida,

Existiu um parto

E uma partida. Despedida.

Lágrimas escorreram,

Muitas…

Daquilo que poderia ser

E não foi

Ausência doída.

Havia uma roupa amarela

Guardada para o próximo.

Talvez …

Do tudo ao nada.

Por fim só.

O muito sonhado,

Anos a fio…

Vive no coração guardado.

Poesia de AdrianaFetter

Bambu

Poesia de AdrianaFetter

Sou bambu que balança ao vento
Minha alma é livre leve e solta


Minha alma é livre leve e solta


Não tenho respostas para nada


Faço buscas na brisa que me embala


E ouço rimas que me sorriem


Trazem leveza ao dia que passa


Faz um carinho suave em meu rosto


E me diz: não tenho certezas


Te trago notícias de esperanças
Apenas.

Quando eu morrer

Não me mande flores

Festeje a minha existência

Escreva sobre o seu amor por mim

Não me mande flores

Sorva um bom café em minha homenagem

Plante um jardim, por onde eu possa passear

Não me mande flores

Recorde o quanto amei a natureza

Faça um brinde à minha vida!

Não me mande flores

Te peço: floresça em plena vida!

Poesia de AdrianaFetter

Promessa



Às vezes volto a ser criança sem aviso. Um cheiro de terra molhada depois da chuva — tão raro em Brasília na seca  — e estou de volta ao quintal da infância. Vejo meus pés pequenos sobre a terra fofa, colhendo morangos vermelhos que manchavam os dedos de doce. Meu pai partia romãs, encontradas no mato, com as mãos, e nós comíamos de colher, semente por semente, como se cada uma contivesse um segredo.

Essa criança ainda vive em mim. Ela carrega não só a alegria dos sabores, mas também as dores, que eu pensava ter deixado para trás. Ao reconstruir minha trajetória até Brasília, entendi que não se trata de escolher entre preservar apenas o alegre ou apagar o triste — mas de abraçar a criança interior completa que fui, com suas romãs, seus morangos e suas feridas.

Cada curva no caminho para Brasília foi temperada por esses sabores antigos. A mesma mão que colhia pêssegos no pomar de casa, agora digita em teclados modernos — mas a amêndoa dentro do caroço ainda sabe a promessa.

Brasília não apagou meus sabores — apenas lhes deu novo palco. Aqui, no cerrado, minha criança interior finalmente compreende: a vida não é sobre apagar o passado, mas sobre enxertar memórias em novos troncos.

SuperAR

Quantas vezes precisamos respirar,

Inspirar longamente

Expirar até esgotar

Olhar ao redor baldio

Reentrar com ideia em si

Reaver o seu eu

Inspiração.

Espirar profundamente

Expelindo seus estranhamentos

Afastar todas as querelas

Transpiração.

Quantas respirações são necessárias

Até transmutarmos uma situação difícil?!

Superação.

O livro da minha vida


Cada pessoa carrega crônicas únicas, momentos que somados formam histórias cheias de sentido.

Ser feliz é uma escolha pessoal, viver cada instante, não ficar presa no passado, nem tentar antecipar o futuro.

A minha tem sido tentar melhorar a cada dia, superar o ontem e abraçar quem eu sou hoje.

Nem sempre é fácil, mas busco viver de forma que, ao olhar para trás, eu não queira mudar nada — porque fui o melhor de mim em cada instante.

Sou grata pelas dificuldades, pois me fizeram crescer. O que me sustentou foram os laços de carinho e a consciência de que agi com a maturidade possível em cada fase.

Minhas decisões me definem. Reinvento-me sempre, celebro minhas alegrias e sigo em frente com leveza.

A vida pode ser um encanto — desde que a gente sonhe, realize e esteja aberta às possibilidades. 


Encare os desafios com sabedoria, mantenha o equilíbrio, e nunca deixe de acreditar em si.

AdrianaFetter

Minuto mental

Ai que preguiça…

Estica vai…

Acorda! Não vai perder a hora…

Meditar um, dois, três,

Coordena essa respiração pessoa!

Tenho que limpar o banheiro

Ah! a roupa para lavar…

Será que a blusa vermelha tá limpa?!

Paguei a conta de luz?!

Ainda não respondi o e-mail… Tenho que mudar a senha…

Vou coar o café logo, nuh! tenho que comprar pó.

Pão com ovo ou tapioca?  

Essa música que não sai da minha cabeça… Burguesinha, burguesinha, burguesinha aaaaaaa

O Luiz ainda não me respondeu

Vixi, esqueci de calibrar o pneu….

Burguesinha, burguesinha, burguesinha aaaaaaa…

Ainda não consegui me concentrar, direito, amanhã eu consigo meditar melhor.

Burguesinha, burguesinha burguesinha aaaaaaa…

Aquele quadro tá torto…

Menina, o presente da Mada!

Nem seu Jorge me aguenta hoje…

Já enviei a proposta da Lorena?!

Gente, onde está esse passarinho cantando?!

Talvez um sushi no almoço…

Tenho que melhorar meu inglês

Burguesinha, burguesinha, burguesinha aaaaaaa…

Que delícia esse mamão!

A Lu e a Mayana ficariam orgulhosas do meu equilíbrio masculino, feminino,

“No centro sentimos leveza”

Minha essência, minha essência, minha essência…

Comida conforto

Foto por Sultan Ali em Pexels.com

Existem comidas que por mais que eu saiba a receita jamais conseguirei reproduzir novamente. Sinto saudade delas, muita, tem particularidades no fazer, o fogão a lenha, uma panela que dava uma queimadinha leve, a forma de lata de óleo antiga, tudo acrescentava sabor único, sabor que o tempo se encarregou de levar embora. Sem repetição… Waffles feitos numa forma de ferro, assados direto no fogo a lenha, cada um dos buraquinhos tinha um dedo de fundura, em cada furo uma generosa porção de geléia, doce de leite ou nata, a gosto do freguês, waffles com gosto de vó. O mingau feito em uma leiteira de aço inoxidável, naquele tempo em que queimava, então tinha que mexer rápido, mas ainda ficava com um queimadinho bom. Esse tinha gosto de mãe, a minha nunca gostou de cozinhar, mas fazia mingau na minha infância, até hoje é a minha comida de conforto, um bom mingau. O lagarto assado lentamente no forno, recheado de toicinho, macio e suculento, acompanhado de macarrão com molho de tomate, gosto de pai, que cozinhava as vezes, ainda guardo esses sabores comigo. Assim são as lembranças das comidas que trazemos conosco, os aromas, cheiros, cheios de recordações. E você, qual é a sua comida de conforto, aquela que além de agradar o coração também aquece a alma?!

Oficina Escrever sem medo: minicontos de verão, por Janaisa Viscardi

Iniciamos a oficina, fazendo uma escrita de cinco linhas, sobre quem somos. Fiz aquele basicão da escola prática, mulher, mãe, avó, casada, formada etc. etc. etc.

Ao final, da primeira parte da oficina, fiquei com o exercício de refazer essas linhas, de uma outra forma, que me representasse, então, aqui embaixo, está posto.

Professora de formação, exploradora por profissão, estudante, eterna, por opção, do fim até o começo.

Mulher mãe e avó, é amor de montão!

Vê beleza mundo afora, seja no micro ou macro cosmos.

Nascida em Pelotas, escolheu Brasília como morada.

Quando acorda dá bom dia ao mundo, aos céus e a natureza, com café, com certeza.

Pós-cinquentou em conteúdo digital, abraça o mundo, por querência e gratidão.

Guerreira, com a autoimunidade, tendo o humor como arma, tira de letra as lutas e batalhas.

61 anos de pura inspiração, tem olhar meigo e perspectiva jacobina.

É muralha, resistência, porto seguro, recheio de puro sentimento, em vastos amplexos.

Fim de Ano e a Montanha-Russa de Emoções: quando a alegria pode  dar lugar à depressão

O final do ano é frequentemente retratado como um período de alegria, união e celebração. As ruas se iluminam, as casas se enfeitam e o espírito festivo toma conta do ar. No entanto, para muitas pessoas, essa época pode ser marcada por sentimentos de tristeza, ansiedade e até mesmo depressão.

Por Que o Final do Ano Pode Ser Tão Difícil?
Existem diversos fatores que contribuem para o surgimento ou agravamento da depressão no final do ano:

– Pressão Social: A ideia de que todos devem estar felizes e celebrando pode gerar uma sensação de inadequação em quem se sente triste ou solitário.
– Cobrança por Retrospectiva: O final do ano nos convida a refletir sobre nossas conquistas e fracassos, o que pode levar a sentimentos de frustração, ansiedade e baixa autoestima.
– Fatores Financeiros: As despesas com presentes, viagens e festas podem gerar estresse e preocupações, especialmente para quem já enfrenta dificuldades financeiras.
– Lembranças e Perdas: Esta época pode reacender a saudade de entes queridos que já partiram ou de momentos felizes que não se repetirão.

Quais os Sinais de Alerta?
É importante estar atento aos seguintes sintomas:

– Tristeza persistente e profunda
– Perda de interesse por atividades que antes eram prazerosas
– Alterações no apetite e no sono
– Dificuldade de concentração
– Sentimentos de culpa e inutilidade
– Pensamentos negativos e recorrentes
– Isolamento social
– Fadiga e falta de energia

Como Lidar com a Depressão no Final do Ano?
– Reconheça Seus Sentimentos: Não tente ignorar ou reprimir suas emoções. Permita-se sentir e acolha seus sentimentos com compaixão.
– Busque Apoio Social: Converse com amigos, familiares ou procure grupos de apoio. Compartilhar suas experiências pode ajudar a aliviar o peso da solidão.
– Cuide da Sua Saúde Mental e Física: Mantenha uma rotina saudável com atividades físicas regulares, alimentação equilibrada e sono de qualidade.
– Limite a Exposição às Redes Sociais: A comparação com a “vida perfeita” de outras pessoas pode intensificar sentimentos de inadequação e tristeza.
– Defina Limites: Não se sinta obrigado a participar de todas as festas e eventos. Priorize seu bem-estar e diga “não” quando necessário.
– Pratique a Gratidão: Concentre-se nas coisas boas da sua vida e cultive sentimentos de agradecimento.
– Busque Ajuda Profissional: Se os sintomas persistirem, procure ajuda de um psicólogo ou psiquiatra. A terapia pode te ajudar a lidar com as causas da depressão e desenvolver estratégias para gerenciar suas emoções.

Lembre-se: Você Não Está Sozinho!
Buscar ajuda é um sinal de força e coragem.

Onde Encontrar Ajuda:
– Centro de Valorização da Vida (CVV): 188 (ligação gratuita)
– Serviços de Saúde Mental do SUS: Unidades Básicas de Saúde (UBS), Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)

Autoimune, os nossos perrengues explicados por um especialista, Dr. Caio Zanetti, e por mim.

Ou amig♡ de auto imune

Vou tentar explicar, minimamente, o que acontece, que muitas vezes é interpretado de maneira equivocada.

Por favor, às pessoas da área da saúde, aqui é uma explicação básica e leiga, sem qualquer perspectiva de desenvolvimento técnico-científico.

Aquilo que nos acomete ou pode acometer, poucas, ou algumas vezes, ou seguidamente:

  • doenças das mais variadas, pela maluquice do corpo autoimune, que combate a si mesmo;
  • fadiga, que não é cansaço, muito menos preguiça, é o resultado de uma luta incansável do nosso corpo, que luta contra ele mesmo, com um inimigo externo.

A doença de Sjögren, minha autoimunidade, acomete as glândulas exócrinas.

As mais conhecidas e “visíveis, as responsáveis pelas lágrimas e saliva. As invisíveis, lubrificação das articulações, as responsáveis pela digestão… muitas outras, muitas mesmo, tudo o que fabrica algum líquido para o corpo funcionar.

Muitos órgãos acometidos: a pele resseca, racha, perde proteção (alergias), o nariz sem lubrificação (rinite, sinusite…); a garganta seca (amigdalite, faringite, laringite); infecções das vias aéreas superiores; pulmões “ressecados” inflamam, criam nódulos, “cicatrizam”; pâncreas, diminue as enzimas, amilase (digestão dos carboidratos), lipase (digestão das gorduras), tripsina( digestão das proteínas), insulina (digestão dos açúcares); fígado, bloqueio dos dutos biliares, hesteatose, cálculos na vesícula, hepatite autoimune; ainda temos, estômago, intestinos, rins, órgãos reprodutores.

Outras complicações podem incluir artrite, problemas oculares e perda da visão, problemas dentários, dores crônicas, neuropatias, problemas de sono, apneia, cálculos renais, doença renal, depressão e ansiedade, risco aumentado de câncer… dentre outros mais.

Deu pra imaginar o número de especialistas que temos que consultar ao longo da vida?! E os exames?!

O diagnóstico é difícil, confuso ou nunca acontecer.

Difícil, já cheguei a ter 16 especialistas.

Esclarecendo que, nem todo autoimune de sjögren tem ou é afetados em todos esses órgãos. As vezes em um, ou 2, outras em muitos.

A fadiga, sei que é difícil nos entender, porque não é cansaço, pode ocorrer por pouco ou muito tempo. Se o autoimune dormir não passa, se passar uma tarde inteira em frente a televisão, quieto, também não passa. São, horas ou dias e dias querendo apenas ficar num canto, para recuperar a energia perdida.

Família, colegas, amig♡s querid♡s não abandonamos vocês, continuam sendo amad♡s. A exaustão tomou conta e estamos tentando voltar a rotina e ao contato com quem amamos. O recolhimento faz parte.

O que pedimos a vocês: acolhimento, compreensão e respeito.

Finitude

Todos nós sabemos que um dia iremos morrer, não sabemos quando.

Este ano tive a real sensação de finitude, alguns eventos de saúde me trouxeram essa emoção. Nada a preocupar, apenas a concretude da realidade do fim.

Pensei com clareza o que a vida estava me proporcionando, tem tanta coisa maravilhosa, deu saudade daquilo que não poderei acompanhar, no futuro.

Amo os meus, quero que se sintam amados. Sabendo que não irei assistir vários anos de suas vidas. Um certo sentimento de melancolia se instalou. É a saudade do futuro que mencionei

Espero deixar a lembrança de quem eu realmente quis ser, porque realmente sou. Vivo cada momento com intensidade, fazendo o que acredito, sentindo cada emoção de cada instante.

Também quero ser uma referência querida, uma saudade boa.

Falo com naturalidade da morte, sempre falamos assim em família, sem tabus.

Já falei sobre o planejamento da minha morte, não gastem com coisas desnecessárias e supérfluas, guardem esse dinheiro. Mas pode deixar uma flor, amo flores.

Planejei o que quero no meu enterro, sem velório, por favor não façam isso, detesto, mas sim uma oração, um mantra, algo em que acreditem, comemorem a minha vida

Sempre amei cafés, sentem em algum que gostei, ou que curtam, lembrem de mim, rememorem uma vivência legal que tiveram comigo,compartilhando essas histórias entre si, chorem, riam, festejem minha existência.

Não pretendo morrer logo, mas não custa deixar manifestado o que se quer, porque a finitude não tem data e hora marcada, não é mesmo?!

Deixem tudo arrumado, informem a sua família de papéis, seguros, contas bancárias… Não deem trabalho! rsrsrsrs… Deixe uma pasta organizada e acessível.

E você, já falou naturalmente sobre a morte, a finitude? Não faça disso um tabu. Ela vai chegar mesmo!

Perdi meu Gil

Hoje eu perdi uma das pessoas que mais amei na minha vida.

Eu era apaixonada pelo Gil, aquele primo mais velho, que, na infância e adolescência, você quer imitar.

Foi tanto amor, recíproco, ele sempre esteve lá quando eu festejei e quando precisei.

Nas brincadeiras, na valsa de 15 anos, na morte do meu pai, na morte da minha filha, nas minhas crises existenciais, nas minhas comemorações.

Perdi meu pai com 10 anos. Quando revisitei a casa onde morávamos, algumas árvores haviam sido cortadas, parte de mim perdeu seus galhos, ele estava ao lado para dar o conforto de um abraço amigo e o passeio no seu jipe amarelo, por Pelotas, para desanuviar.

Assisti meu primeiro Scorsese, Alice Não Mora Mais Aqui, anos depois pensava como aquele jovem adulto nos dava seu tempo de juventude para os primos moleques.

Com Gil conheci Virgínia Wolf. Ele era escritor e eu também gostava de desenhar letras, mostrei para ele meus primeiros versos, nos nossos intermináveis cafés no porão. Também me apresentou a Tomie Ohtake.

Com ele vivi aventuras, mesmo não estando nelas. O passeio de moto pela América do Sul, quando, de repente, o céu dia se fez noite, num eclipse de final de mundo. Quando morou em Salvador e se tornou confeiteiro para sobreviver e repetia as receitas da nossa avó, por quem éramos apaixonados.

Quando voltou para Pelotas, ídolo dos mais novos, com sua jaqueta de couro preta, óculos a lá John Lennon, cabelos desgrenhados, todos corremos, imenso corredor afora, para dar um abraço de puro amor e saudade.

Não nos víamos há anos, cidades muito distantes, o carinho era o mesmo.

Não sabia que ele estava doente, passei esses dias pensando nele, muito mesmo.

Em determinado momento me ocorreu, será que ele sabia que eu estava de cabeça branca? Desses  momentos em que dialogamos conosco.

Nesta semana ele esteve comigo e eu com ele, mesmo sem saber que era uma despedida.

Perdi parte de mim, perdi meu Gil.

Deixa eu te contar, fadiga é #foda!

Estou fadigada, isso não quer dizer cansada.

Fadiga é muito mais.

Na doença autoimune é o resultado do corpo lutando, o tempo todo, contra você mesma, porque qualquer coisa é uma ameaça, os anticorpos acham que é invasão, há um combate feroz, toda a estrutura reagindo, a gente fica exausta.

Exames e médico se tornam uma rotina, muito além do que qualquer outra pessoa possa fazer, tipo, sabe aquele check-up anual? Para autoimune é um check-up mensal.

No meu caso específico, pneumo, gastro, hepato, cardio, reumato, endócrino, oftalmo, ortopedista, hemato, dermato, geriatra, dentista, psicóloga… Deve estar faltando algum que esqueci. Sim, ginecologista, e?! …

Claro, ainda tem todos os exames, que cada um dos especialista pede para que eu faça, para acompanhamento das reações de cada parte do meu corpo, contra ele mesmo. Ultrassonografia, ressonância, tomografia, cintilografia, exames laboratoriais, regularmente.

Nossa, mas você precisa de tudo isso mesmo?! Que exagero!

Vamos lá tem nódulos na tireoide, no pulmão, pâncreas hipotrofiado, cartilagens soltas ou desmanchadas, ossos em atrito, fígado intoxicado, controle das células sanguíneas, olhos sem lágrimas, boca sem saliva, pele sem hidratação, inúmeras alergias, infecções de repetição. E dores…

Administrar o desconforto, inferências, caras e bocas! As pessoas e seus pitacos azedos, ou escondidos! Nos olham como uma lunática, hipocondríaca…

É uma agenda intensa para prevenir e remediar, pilates, fisioterapia, 3 vezes por semana, cada uma, acupuntura 2 vezes, terapia. Muuuuitas dores no corpo e na alma.

Você cansou?!

Trabalho, estudo, atualmente são 2 cursos, gerencio redes sociais, de 2 páginas e um blog. A agenda é cheia.

O sorriso no meu rosto é constante, porque a vida parece difícil, eu não preciso torná-la mais.

Minha vida é boa! Eu tenho meios de me tratar, eu tenho uma família incrível, filhos, marido, netos e amigos. Eu sou feliz!

Queria compartilhar, ser autoimune é difícil e fadigoso.

Ter fadiga é que cansa!

Sua estratégia de vida é fundamental para estar bem! Eu criei a minha.

Descansar, quando preciso, distrair, quando necessário, rir de mim mesma, cuidar do meu corpo, amar, afastar, ser fiel e leal a mim. Bom humor, positividade, resiliência e adaptação. Levo a vida, não deixo ela me levar.

8 anos… falta a Cláudia em minha vida

Avatar de adrianafetterPara Cláudia

Nem preciso te dizer que todos os dias lembro de ti, como uma irmã, amiga, são gatilhos que acontecem, naturalmente.

Já foi com muito sofrimento, hoje junta é saudade, é triste, mas a dor diminuiu.

Sinto falta da tua intensidade para tudo, vida trabalho, hobbies, críticas e um apoio e amor incondicionais.

Restaram as orações, as lembranças e uma lacuna, a das nossas longas conversas e trocas.

Deixo aqui a oração que fazíamos no evangelho do lar, quando eu estava em Pelotas, Maria passa na frente.

Que a luz esteja contigo!

Maria passa na frente e vai abrindo estradas e caminhos.
Abrindo portas e portões.
Abrindo casas e corações.
A Mãe vai na frente e os filhos protegidos seguem seus passos.
Maria, passa na frente e resolve tudo aquilo que somos incapazes de resolver.
Mãe, cuida de tudo o que não está ao nosso alcance.
Tu tens poder para isso!

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O metrô e a vida

Avatar de adrianafetterpós 50

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Todos os dias no metrô ela dormia às vezes sentada, quando dava, outras em pé mesmo, encostada aproveitava os infinitos minutos, até chegar ao destino.

Essa era a rotina, levantar, arrumar rapidamente o café, lavar a louça e sair correndo para pegar o ônibus, para conseguir entrar no metrô as 6h.

A vizinha levaria as crianças para a escola, deixava a mesa posta com o café e elas de uniforme, as vestia mesmo dormindo, para não dar trabalho para a amiga.

O marido?! Já tinha se ido, achado outro caminho, sequer tinha notícias dele.

O sustento da casa era por conta dela, mas comida na mesa tinha. Podia ser pão dormido com café, arroz e feijão com ovo, mas tinha. Morar no subúrbio era o que dava, no momento.

Sempre dizia às filhas: estudem, nunca dependam de ninguém, a vida só é vivida assim, façam seu próprio caminho.

Nem ela…

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Mulheres e Meninas Digitais

A pandemia agravou a situação de trabalho das mulheres, cada oportunidade é preciosa.

Avatar de adrianafetterpós 50

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A desigualdade de gênero está em todos os lugares, apenas 5% dos cargos de chefia e CEO de empresas no mundo são ocupados por mulheres, segundo pesquisa da OIT. No Brasil, as mulheres estudam mais, porém recebem salários menores que os homens, para desempenharem as mesmas funções.

Pare, leia e reflita sobre o texto a seguir da Onu Mulheres:

O mundo do trabalho está mudando de um modo que terá consequências significativas para as mulheres. Por um lado, os avanços tecnológicos e a globalização trazem oportunidades sem precedentes a quem tem a possibilidade de acessá-los. De outro lado, estão o aumento do trabalho informal, a desigualdade de salário e as crises humanitárias.

Apenas 50% das mulheres em idade de trabalhar estão representadas na população economicamente ativa no mundo. Os homens representam 76% dessa força de trabalho. A esmagadora maioria das mulheres trabalha na economia informal,

sustenta o trabalho…

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Glória Maria, morre um ícone

Glória vai fazer muita falta, com sua energia, vida, força.

Foi a jornalista da minha geração, cobriu de tudo, participou de verdade nas suas matérias, mostrando todas as suas emoções. Pioneira.

Abriu caminhos, para as mulheres. Para as mulheres negras foi ícone, farol, coragem.

Fez história, Brasil, mundo,vida!

Única, estilo inigualável, essa é a palavra: admirável!

Ela realmente viveu! Vai em paz Glória, a luz te recebe com muita honra!

Usurpação, o dia que invadiram o Palácio do Planalto

Eu já usei essa mesa, ou uma idêntica, escolhi pela beleza do trabalho na madeira.

Eu trabalhei no gabinete pessoal do Presidente da República, no 3º andar.


Fui servidora da Presidência da República por 24 anos, 8 deles no gabinete pessoal, como adjunta.


A invasão de domingo também me invadiu, de tristeza, de perda, vi a mesa no meio das cenas de destruição, foi desolador, fui usurpada.

Nunca, trabalhando no 3° andar, tive a sensação que isso, um dia, poderia acontecer, nunca.


O espelho d’ água do Palácio Planalto não era previsto no projeto original de Oscar Niemeyer, foi construído em 1989, no final do governo Sarney, depois que um homem, dirigindo um ônibus, subiu a calçada do planalto e chegou até as pilastras.

Ali foi percebido a fragilidade da segurança do prédio. Se tivesse subido 2 rampas estaria no 3° andar, o do Presidente. Os protocolos foram revistos, o espelho foi instalado, como uma barreira física.


O palácio sempre foi guardado e protegido por seguranças, ligados ao GSI (Gabinete de Segurança Institucional), pelo batalhão da guarda presidencial (infantaria), ou pelo batalhão dos dragões da independência (cavalaria). Tem sempre parte da tropa de plantão, para proteger 4 palácios, o Planalto, o Alvorada, o Jaburu e a Granja do Torto, os ligados à presidência da República. Tem sempre segurança dentro dos prédios.

Mesmo sendo do corpo de servidores da presidência da república, depois que saí do gabinete, eu só poderia transitar me identificando na segurança das recepções.


Sei lá, me invade um sentimento de angústia, sempre me senti segura lá dentro, me pergunto onde estava essa gente, que sempre deu proteção…


Onde vocês estavam? Por que não protegeram o Palácio?

Não existe fórmula para um ano perfeito

Faça suas reflexões para o novo ano. O que quer que aconteça?

Verifique o que é realmente importante e relevante para a sua vida e faça disso o maior sonho a maior conquista.  Isso vale para os pedidos de desculpas que não fez, aquela declaração que não disse, aquela visita que você vive adiando. 

Trate de avivar a sua vida. Se quiser dançar, dance.  Cante! Vá ao cinema quando desejar, coma aquele doce que você tanto gosta, faça pipoca pra ver TV, não fique adiando planos, mesmo que sejam simples.

Sabendo que, um momento pode mudar tudo, o que estamos fazendo em nossos instantes?!

Perdemos a nossa verdadeira expressão, a verdadeira exteriorização de nós mesmos, vivemos para agradar aos outros, infelizes.

Se pergunte e responda, onde quero chegar, com quem quero ir, só você pode ser só você, qual caminho irá trilhar, seja honesta, porque só você terá as respostas.

Na vida o melhor é ser o mais honesto possível, inclusive consigo mesmo! Não se foge de problemas, no máximo se adia.

Monitore sempre os seus sentimentos e os seus problemas, para que não se agigantem e para não se afundar com eles, para não atrapalharem a navegação.

Para a vida o diálogo, o respeito e o amor são uma boa fórmula, um bom caminho.

A vida tem suas estações, tudo ao seu tempo, mudamos para evoluir, assim como na natureza.

O tempo não para, não pare no tempo. Não perca a capacidade de sonhar e continue colorindo a tela em branco que é a vida.

Nem sempre a verdade é a melhor resposta…

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Minha mãe faleceu no início deste ano. Faria 100 anos, em 2025, e os momentos de lucidez já eram raríssimos.

Estávamos conversando, certo dia, e ela me perguntou, apontando para o céu, e a minha mãe?

Então, ao invés de responder, eu simplesmente comecei a falar das coisas que a vó fazia na cozinha, com cada fruta da época.

“Mãe lembra da vó descascando os pêssegos? Para fazer a geléia, a pessegada, os pêssegos em calda e os suco de uva?! E aquela vez que ela mandou o pêssego em calda para ser enlatado?! 12 fatias por lata, ao abrir descobriu que o responsável enlatava 10, ficando com duas fatias, de cada lata, para ele.”

Lembrei das fornadas de cucas…

Ela ria das histórias…

Era uma maneira de relembrar a sua mãe, minha vó Olga, reviver os momentos felizes.

E assim eu levava, porque não queria relembrar nela, em uns…

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Estrutura e Conjuntura

Avatar de adrianafetterpós 50

Lembro de vários momentos, em minha vida, em que eu estava dentro de um turbilhão, e pensava o quão difícil seria contornar aquela situação, que, hoje, olhando para trás, percebo como seria tranquilo administrar, mas a maturidade de agora é que enxerga e percebe isso.

Difícil se distanciar e fazer uma avaliação de como agir, mas é uma ação necessária. Olhar como espectador e não como ator.

Costumo dividir as situações em estruturais e conjunturais.

Estrutural é aquela situação que vai marcar a minha vida e fará com que a ela se modifique. O nascimento de um filho, a morte de alguém muito próximo, uma doença grave ou limitante. São aquelas mudanças que deixam uma marca indelével. As capazes de interferirem nos nossos valores, nos mudar.

As conjunturais podem ser difíceis, no momento em que se vive, trazerem sofrimento, mas só fazem diferença durante certo tempo, enquanto se está nela…

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Jô Soares, um pouquinho de nós

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu…

Roda viva – Chico Buarque e MPB4

Hoje morreu Jô Soares… se aconchega uma tristeza em mim.

Fez parte da minha vida, a vida inteira.

Os programas de humor, assistia todos.

Ele me fazia dormir tarde, porque eu queria assistir todas as entrevistas do sofá, no final da noite. Incentivava a minha notivagacidade (não sei se tem essa palavra, mas em mim existe).

Com ele era possível viver cultura, política, humor,futebol.

Gênio!

E o Brasil vai ficando mais triste, mais sem graça, as risadas diminuindo…

Fica uma saudade… Fica o enorme legado.

E agora minha vó?!

Sou uma neta privilegiada, tenho o livro, da minha avó paterna, Amélia, que descreve todo o gerenciamento de uma casa. Tem de tudo, o mais precioso para mim, cardápios detalhados. Foi um presente de minha madrinha.

Privilégio duplicado, há alguns anos, minha tia Eny, me entregou o caderno de receitas da minha avó materna, Olga. Minha tia acreditava ser eu uma das herdeiras, das prendas de minha avó Olga, pois algumas vezes cozinhei para ela.

É um caderno simples, capa de papelão, costurado no meio, daqueles em que se anotavam as despesas do armazém. Consta ali, ao final, inclusive, algumas despesas da época.

Guardo com muito cuidado, por sua precariedade, passadas muitas décadas, desde sua primeira anotação. A capa está a desmanchar-se.

Que letra linda e desenhada, foi a primeira impressão, me pareceu que outras pessoas ali escreveram receitas. Algumas grafias feitas em caneta tinteiro, outras em lápis ou caneta comum.

Resolvi transcrever algumas receitas, após o pedido da receita de quindins, solicitada por uma prima. Presente garantido em nossos aniversários.

Quindins, é uma das poucas receitas detalhadas. Vó Olga só apontava os ingredientes e rapidamente o cozimento. Tinha todo o processo guardado em sua cabeça.

E agora minha avó?!

  • o que seria um pão de 200 réis;
  • meia quarta de batatas ou uma quarta de amêndoas;
  • uma dita de manteiga
  • Ou quanto é Cem réis de caninha ou spirito (não faço ideia o que seja esse).

O mais fácil, até agora, foi converter libra em kilo ou gramas…

Em uma pesquisa no Google, encontrei referências à antigas medidas lusitanas. Algumas datam da mudança da família real para o Brasil, sem, no entanto, ter qualquer registro da conversão de quarta ou dita.

Tem sido uma aventura, deliciosa, traz as melhores recordações, de quando, muito pequena, mal os olhos transpunham o tampo da mesa, observava as prendas de minha avó como confeiteira.

Os quindins, ou queijadinhas, desabados ao desenformar, tinham paradeiro certo, a barriga dos netos presentes.

A vida e suas histórias

Nossa vida não daria um livro? Por suposto que sim!

Sou uma apaixonada pelas histórias da pessoas, suas crônicas de vida. Sim, porque a história de cada pessoa, para mim, é um conjunto de crônicas, cada etapa vivida a soma de várias vidas.

Nessa caminhada existe a possibilidade de ser feliz, a opção é nossa, pessoal e intransferível! A minha opção foi ser melhor, a cada dia, superar o dia anterior.

Nem tudo é fácil, não é verdade?! Faça aquilo que você puder fazer para olhar o passado e poder dizer, eu não mudaria nada, porque o que fui foi o melhor de mim, naquele momento.

Sou grata por cada situação que tive de superar, amadurecer, para chegar até aqui.

O que me sustentou, os meus alicerces, foram as relações de carinho que eu estabeleci no decorrer dos anos e a compreensão de que minhas atitudes eram o que minha maturidade permitiu, naquele momento.

As minhas decisões de vida e compreensão dela me definem, vou me reinventar em cada fase necessária, em cada momento de evolução, somar cada momento de alegria e intensidade, assim poder dizer a mim mesma, fui e sou feliz.

Assim é a vida, imagine, sonhe, porém não deixe de concretizar, faça com que o seu sonho vire uma realidade, um momento de felicidade.

A vida pode ser um charme, uma história a ser contada.

Há dias que são alegres, que se tem vontade de inovar. Outros que podemos aproveitar para aprender, evoluir, com os percalços que se apresentam.

Você tem a opçao de se abrir para a vida, perceber a alegria e beleza ao redor.

Dificuldades existem, sempre, e é como as encaramos e superamos que fazem com que elas se transformem em crescimento pessoal. Nunca, definitivamente, deixe de sonhar, possibilidades acontecem em qualquer momento.

Use a sua sensatez desenvolva o seu equilíbrio interior, olhe com sabedoria para si e para a sua essência. Você pode e sempre será muito melhor, se assim se permitir.

Estrutura, Conjuntura – Vida

Lembro de vários momentos, em minha vida, em que eu estava dentro de um turbilhão, e pensava o quão difícil seria contornar aquela situação, que, hoje, olhando para trás, percebo como seria tranquilo administrar, mas a maturidade de agora é a que enxerga e percebe isso.

Olhar como espectador e não como ator. É difícil se distanciar e fazer uma avaliação em como agir, mas é uma ação necessária.

Costumo dividir as situações em estruturais e conjunturais.

Estrutural é aquela situação que vai marcar a vida e fará com que a ela se modifique. O nascimento de um filho, a morte de alguém muito próximo, uma doença grave ou limitante. São aquelas mudanças que deixam uma marca indelével. As capazes de interferirem nos nossos valores, nos mudar profundamente.

As conjunturais podem ser difíceis, no momento em que se vive, trazerem sofrimento, mas só fazem diferença durante certo tempo, enquanto se está nela.

Uma discussão, o fim de algum relacionamento, uma mudança de cidade, uma mudança de emprego. Situações que você pode mudar ou alterar.

O fim de um relacionamento também abre perspectivas novas, novos amores, autoconhecimento. A saída do emprego idem, novas oportunidades.

Saiba dar a devida importância e perceber a diferença entre àquilo que realmente fará diferença em sua vida.

Crises acontecem, são passageiras, nos proporcionam a possibilidade de crescer, amadurecer e evoluir.

Os eventos estruturais demandam de nós adaptabilidade e resiliência. Requerem uma energia intensa, são momentos decisivos em nossas vidas. São definitivos.

A vida é uma aprendizagem constante, ela nos traz novas matizes, diferentes luzes. Viver é estar em movimento.

Despedida

Minha mãe descansou.

Foram quase 97 anos, faria aniversário em maio.

Foi encontrar o meu pai, que tanto a amou, meu irmão que nos deixou tão cedo e a minha tia Eny, sua irmã e melhor amiga, tenho certeza a estarão recebendo com muita luz.

Vai em paz, te amamos!

Cely Fetter Dias da Costa – 1925/2022

Eu

Tá vendo a minha foto?! Ela tem uma missão aqui neste texto, mostrar que, apesar das circunstâncias, uma condição acessória em sua vida, existem motivos para sorrir.

Li Pollyanna e seu jogo do contente, na infância, aprendi que em qualquer situação, vou conseguir encontrar um motivo para ser feliz, virou um propósito de vida.

Estou sem qualquer maquiagem na foto, filtro automático sim. Não posso usar nada que tenha tinta, então tive que me amar literalmente nua e crua, todos os dias de olheiras, cabelo branco, e sabe o que?! Eu realmente me amo!

Separo boa parte do dia cuidando de mim. O meu corpo, esse parceiro de vida, exige de mim muita atenção. Ele tem epilepsia, síndrome metabólica, síndrome de sjögren (dizem doença autoimune rara), tem inúmeras alergias, dores reumáticas, enfim é um sacana!

E eu?! Sigo bela, feliz e faceira, porque nada me impede de ser eu mesma, ter autoestima, viver cada dia, todos os dias. Meu corpo é minha circunstância, vivo nele, sou muito mais do que ele.

Decidi ser feliz, foi uma decisão de vida! Sou grata por toda situação, em que tive de me superar, amadurecer, para chegar até aqui.

Meu corpo não me define! Eu sou Adriana Fetter, minhas decisões de vida e compreensão dela me definem, vou me reinventar em cada fase necessária, em cada momento de evolução.

Camélia branca

Minha madrinha, Dinda, foi uma das pessoas que mais me amou, sempre senti assim. Era irmã do meu pai.

A última vez que nos vimos ela estava ao lado de uma camélia branca (amo camélia, de qualquer cor), me chamou de queridinha, como sempre, me disse que me amava muito. Depois, segurando o meu rosto em suas mãos, me deu um carinhoso beijo de despedida.

Foi a última vez que nos vimos, ela faleceu dormindo em sua cama, um mês depois.

Era uma mulher elegante, sempre impecavelmente arrumada. Tenho dela lembranças de afeto e de carinho.

Usava várias pulseiras e anéis, a maior parte herdadas de minha avó. Criança pequena eu era fascinada por tudo.

Sentada em seu colo, ela ia tirando uma a uma das pulseiras, para que eu olhasse e brincasse com elas. A de trança, de filigrana, argola…

Morava em outra cidade, mas vinha uma vez por mês. Almoçava lá em casa, as quartas-feiras, quando estava em Pelotas, para mim uma festa.

Lembro de uma vez, ela me deu a bolsa para remexer, feliz vi um caderninho de capa vermelha e uma caneta, desenhei uma casinha para ela, na sua carteira de identidade, do lado em branco.

Até os meus 6 anos de idade ela tricotou todos os meus vestidos de aniversário. Lindos!

Morou na Itália. Recebia dela cartas em papel de seda, caligrafia desenhada, com caneta tinteiro. Tudo muito elegante, como ela.

Descrevia os lugares, com tanta perfeição e riqueza de detalhes, que me proporcionou estar com ela neles. As fontes esculpidas em mármore, o fantástico sabor do chocolate quente, as praças e cafés.

Sempre me mostrou em cada gesto, ou atitude, o seu amor por mim. As pessoas que nos amam, definitivamente, deixam em nós a marca do amor verdadeiro. Elas nos ensinam a amar.